Elucubração a respeito de salários no serviço público de Trindade e alhures.


Tem uma coisa que sempre me intrigou e, penso, até hoje não tratei disso assim tão claramente aqui neste blog. É o seguinte. Até concordo que os vereadores, os secretários municipais e diversos cargos da estrutura administrativa da Prefeitura, bem como o prefeito e o vice, sejam bem remunerados. No caso de Trindade, os vereadores recebem salários de 10 mil reais por mês. Os secretários municipais, até onde sei, têm contracheques do mesmo tamanho em dinheiro, evidentemente. Imagino que o prefeito e o vice, pela mesma forma, devem ter lá salários bem acima do razoável, segundo os padrões da economia local.

Tudo bem, prossigamos. O que me intriga é o por quê os caras encontram justificativas e têm coragem de propor para si próprios salários assim, ao mesmo tempo em que fixam remunerações, como direi, incompatíveis para os demais servidores, em especial os professores. Até onde fiquei sabendo, um professor do nível P IV (detentor de curso superior e pós-graduação) recebe alguma coisa ao redor de R$ 1,4 mil na fase inicial. Ou seja, o salário que um vereador recebe seria suficiente para remunerar o trabalho de, mais ou menos, 7 professores da rede municipal de ensino.

Repito, nada contra pagar bem às autoridades em questão. A pergunta é por quê não se pode seguir a mesma linha de decisão administrativa para os demais integrantes do serviço público municipal. Ah, tá! A grana é curta, não há orçamento, logo diz algum entendido das finanças municipais. E nessas horas vale o ditado popular: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Eita, decisão séria é essa tomada sob as luzes de tal raciocínio!

Na minha pobre maneira de pensar, a coisa teria que seguir justamente na direção contrária à atual. Bem, o dinheiro é curto demais para pagar melhores salários para médicos, enfermeiros, professores, garis, motoristas, agentes de trânsito, fiscais de postura, dentre outras categorias, então melhor haver mais moderação, comedimento, ao aumentar os salários dos ocupantes do topo da pirâmide do serviço público. Fica esquisito demais da conta esse tipo de procedimento que confere salários altos para as autoridades e contracheques esquálidos aos demais trabalhadores. Até mesmo porque, o contribuinte, aquele ser pagador de impostos, fonte das receitas de qualquer prefeitura, geralmente não é chamado para dizer onde desejaria ver o dinheiro público sendo aplicado.

Mas preste muita atenção, internauta que me lê neste momento, por favor. Isso não acontece apenas nas prefeituras, muito menos em Trindade. Você pode reparar que no Estado a coisa segue um padrão parecido. Categorias mais poderosas têm salários bons. Deputados, governador, o vice, secretários de Estado, juízes, promotores de justiça, procuradores, delegados, auditores fiscais, não podem se queixar de serem mal remunerados. Principalmente se observarem o que se paga para professores, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, médicos, policiais, agentes penitenciários e uma série de outras categorias existentes no serviço público. É inegável a discrepância salarial no caso comentado neste parágrafo.

Não sou de apostar nada não e nem vem que não tem que vou continuar com a mesma postura, mas tenho quase certeza de que esse padrão de comportamento na condução da, digamos, política de remuneração do serviço público federal certamente estará dentre de padrões muito semelhantes aos verificados nos municípios e estados da federação. Eu penso e posso até estar errado, mas arrisco um duvido-d-ó-do.


Para terminar esse texto aqui, pois ficou longo demais, confesso que isso me intriga e não concordo com essa política de gestão de pessoas, em absoluto. No entanto, a coisa parece ser assim tão normal, aceita meio que de bom grado até mesmo pelos integrantes das categorias pior remuneradas que eu até penso que estou errado. Devo não estar conseguindo alcançar onde se encontra o ponto de equilíbrio ou de justiça dessa forma de se remunerar os servidores. Quem sabe um dia eu possa entender melhor isso aí. Quem sabe, né?


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