O trânsito nosso de todo dia que mata cachorro e quase atropela mulher e crianças.

É possível melhorar o trânsito mas é preciso antes que a gente mude nossa conduta quando nos sentamos ao volante de carros ou pilotamos motos cada vez mais potentes.



Domingo (26) à tarde, ali na chamada boca da noite, estava fazendo uma caminhada pelas ruas e avenidas de Trindade. Muita gente estava ligada no início da apuração do segundo turno das eleições 2014. Eu também, evidentemente. Exercitava-me ouvindo os boletins pelo rádio. Fazia um calor muito forte e o tempo estava abafado demais da conta. Chuva que seria bom, nadica de nada.

Quando eu estava caminhando no sentido Santa Bárbara de Goiás – Trindade, ali nas proximidades das Faculdades União de Goyazes (FUG), presenciei uma cena ruim de se assistir. Um carro vinha bem rápido saindo de Trindade no sentido Santa Bárbara e um cachorro atravessava a pista de rolamento. O motorista do carro não diminuiu a velocidade e atropelou o animal, arremessado o pobre coitado contra o meio-fio. Uma série de pancadas difíceis de não fazer uma vítima fatal. Claro, o infeliz animalzinho ficou chorando de dor.

Na sequência vinha uma mulher empurrando uma bicicleta com uma criança na garupa, acompanhada de dois outros meninos, bem novinhos. Pela aparência, um devia ter uns 10 anos e o outro mais novo ainda. Enquanto a mulher atravessava a pista, muito próximo do local onde o cachorro acabou sendo colhido por um carro, quase que o mesmo acontece com a mulher e a criancinha que ela conduzia sobre a garupa da bicicleta, pois um veículo vinha em alta velocidade e buzinando. A distância que o veículo passou da mulher foi assim quase que da dimensão do beiço de uma pulga.

Fiquei impressionado com o cachorro sendo atropelado e com a possibilidade daquela mulher e uma criança sobre a bicicleta terem o igual destino, no mesmo local e quase que ao mesmo tempo. Deus do céu! Os motoristas simplesmente não diminuem a velocidade quando enxergam cachorro, gente, sei lá, no meio da pista. Sinceramente, achei o cúmulo do absurdo foi o condutor do carro buzinar para que a mulher saísse da frente. E deu para perceber que ele vinha a toda velocidade naquele momento. Foi por um triz que não houve um acidente de graves proporções naquele instante. Coisa da ação divina mesmo.

Realmente, o trânsito é um negócio que funciona não em favor do pedestre, mas, sim, contra quem está a pé. É incrível como nós nos transformamos no momento em sentamos à frente de um volante. Não é assim com a maioria das pessoas? Na verdade, somos todos pedestres; tornamo-nos circunstancialmente motoristas, motociclistas, enfim, por um tempo, enquanto dura o traslado de um ponto a outro. No mais, estamos sempre sobre dois pés. Porque é que a gente não respeita mais os outros que estão fora de qualquer tipo de veículo? Muito esquisito isso, eu acho.

E tem mais. O individualismo assume dimensões exageradas, pois todo condutor de veículo se comporta como se a vez de passar fosse dele, e pronto e acabou. O mundo está aí para servir ao motorista. O outro que transita ali do lado, atrás ou à frente acaba sendo entendido, visto, percebido, como um intruso, um estorvo. Primeiro eu, depois o resto do resto. Acho que é mais ou menos dessa forma que as coisas acontecem nas ruas e avenidas das cidades e também nas estradas e rodovias deste País “em que se plantando tudo dá”.

Penso que está na hora de nós começarmos a mudar nossa conduta no trânsito, não é verdade? Falamos tanto a respeito de coisas erradas, mas sempre encontramos o erro no outro, já reparou isso? Estou pensando que é preciso tomarmos coragem para identificarmos em nós mesmos as melhorias a serem feitas, os reparos necessários ou as mudanças bem-vindas a nossa própria maneira de agir no trânsito ao volante de carros e caminhões, motos e ônibus, bicicletas ou charretes, inclusive a pé também. Posso estar tremendamente equivocado, mas é bem dessa direção que, penso, virá (se vier, é claro) uma mudança verdadeira capaz de melhorar o trânsito nosso de todo dia.

Passando a régua, eu fico meio que convencido com minha maneira de pensar acima referenciada porque se a gente não respeita a vida de um cachorro que está atravessando uma pista nem mesmo as vidas de mulheres e crianças, é sinal de que, no trânsito, estamos desumanizados demais da conta. Lei por si só não dará conta dessa transformação. E isso só muda dentro de cada um de nós. Do contrário, lamento, a coisa seguirá de mal a pior. É possível isso? Creio que sim, infelizmente.


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