Sinal vermelho abre oportunidades de negócios nos semáforos

Batalhão de vendedores e artistas que ganham a vida nos sinaleiros da capital



Mercado a céu aberto nos sinaleiros de Goiânia.
Quando o sinal fica vermelho em diversos semáforos de Goiânia, especialmente naqueles cruzamentos mais movimentados, muita coisa acontece enquanto os condutores dos veículos de duas, quatro ou mais rodas permanecem parados esperando pela luzinha verde e assim cada um continuar sua viagem pela capital goiana.

Dia desses, ao transitar pela Avenida T 7 com a Rua C 1, no Jardim América, o sinal fechou para mim e enquanto esperava fiquei observando o corre-corre de diversos vendedores oferecendo vários produtos aos motoristas. De uma mulher com a pele queimada pelo sol e braços protegido por mangas compridas da camiseta, comprei uma sacola de banana maçã, ao preço de R$ 5. Que local mais estranho para se fazer compras, pensei comigo. Mas esse comportamento tem tudo a ver com a correria na qual a gente vive hoje em dia. Todos temos pressa demais para chegar onde e fazer o quê mesmo? Vai saber, né? “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...”, onde isso vai parar? Aqui mesmo, ora pois.

Continuemos. Nos breves segundos que separam as luzes vermelha e verde um batalhão de gente entra em ação, numa prova de que o trânsito, na prática, não para nunca. Há artistas que se apresentam fazendo malabarismos com toda sorte de objetos, dançarinos rebolam e mexem em passos na levada de diversos ritmos, homens, mulheres, crianças pedem uns trocados, mas o destaque fica por conta do batalhão de vendedores que faz dos sinaleiros uma espécie de mercado a céu aberto, não raras vezes, sob o calor do sol inclemente. É que o “show tem que continuar”, pois as contas vencem no fim de todo mês...

Os caras vendem ou tentam vender para os motoristas ansiosos por seguir viagem, diversas mercadorias, tais como, caqui, morango, cajá, mixirica, laranja e banana, mas há também espaço inclusive para pipocas industrializadas. Bugigangas eletrônicas, carregadores de baterias de celular, raquetes para matar mosquitos, panos de chão, sacos de lixo, água, sucos, picolés, brinquedos infantis os mais variados, enfim a cada vez que o sinal se fecha para os veículos, oportunidades de negócios se abrem para quem luta pelo pão de cada dia nos semáforos goianienses.

E o pessoal que trabalha neste comércio informal pelas ruas e avenidas das cidades brasileiras bota a criatividade para funcionar e dá um jeito de expor as mercadorias nos canteiros, fazendo das árvores e suas sombras “lojas” e hasteando cordas como varais para mostrar à distinta freguesia aquilo que está à venda. Ainda que a gente faça troça a respeito da preguiça do brasileiro, fato é que muita gente batalha dura e diariamente pelo pão de cada em condições pouco favoráveis, como no caso aqui em destaque.

O mercado de trabalho informal no Brasil é pujante mesmo. Estimativas de 2012 diziam que a mão de obra informal nesta “terra em que se plantando tudo dá” somava 44,2 milhões de pessoas, o que representava 22% da população brasileira, à época estimada em 195 milhões de habitantes, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E certamente é gente de mais que ganha a vida na informalidade, muitas vezes levada a isso pela pesada carga tributária incidente sobre as folhas de pagamentos das empresas legalmente constituídas, apesar dos recentes esforços governamentais que facilitaram a formalização do trabalho, via redução de alíquotas ou isenção de contribuições que oneram as folhas salariais, com destaque para a contribuição previdenciária.

De toda forma, trabalhar desse jeito, sob sol ou chuva, sem carteira de trabalho assinada, sujeito às intempéries desse clima doido, não é brincadeira não. Ademais, há sempre o risco do trabalhador assim exposto sofrer um acidente com os veículos que transitam pelo local permanentemente. Sem dúvida alguma essa é uma atividade de risco da qual milhares e milhares de trabalhadores retiram o sustento. E assistimos a isso todos os dias de dentro dos carros. Até quando? Parece que isso vai durar muito tempo ainda.

 

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