R$ 30 bilhões é o custo mínimo da aprovação da reforma da previdência

Prefeituras que não pagaram contribuições previdenciárias acumulavam dívida de R$ 75 bilhões foram premiadas com desconto de R$ 30 bilhões. Quem não pagou em tempo a conta fez um baita negócio.


Presidente Michel Temer falando sobre o desconto de débito das prefeituras.



A reforma da Previdência engendrada pelo secretário Marcelo Caetano, afinadinho com o ministro Henrique Meirelles e sob o comando do presidente Michel Temer (PMDB), agora sabemos, custará aos contribuintes brasileiros, no mínimo, R$ 30 bilhões. É dinheiro demais da conta, meu povo! E o pior, dinheiro que deveria ter sido recolhido aos cofres da União, mas alguma coisa como 4 mil prefeitos decidiram dar o calote. E não é que, financeiramente, fizeram um bom negócio? No parágrafo seguinte a gente fecha essa conta. Antes, porém, uma constatação. O mundo, melhor dizendo, o Brasil é dos políticos espertos, “não tem como duvidar” (Salve, Só Pra Contrariar).

Usando da sempre irresistível força argumentativa de um chefe do Executivo nacional (liberação de grana das emendas ao Orçamento da União, nomeações de apadrinhados dos parlamentares em cargos públicos e perdão de dívidas de Estados e Municípios mal administrados, dentre outros fortes argumentos), prefeitos foram a Brasília e retornaram para suas respectivas bases levando nas malas a fantástica redução da dívida que eles produziram ao longo dos anos. Os cofres do Tesouro Nacional receberam dribles de uma boa leva de prefeitos espalhados pelo Brasil e estamos falando de uma montanha de, mais ou menos, R$ 75 bilhões. Isso é grana suficiente para comprar, digamos, quase 2 milhões de unidades do Volkswagen Gol 2017. Neste caso faltaria garagem, né? Vixe! Pois bem, com os abatimentos conseguidos pelos alcaides tupiniquins alegremente reunidos no Planalto Central, o débito cairá para R$ 45 bilhões.

Está fora dessa conta o custo, em dinheiro público, das liberações das emendas orçamentárias apresentadas por Suas Excelências deputados federais e senadores, bem como das despesas de nomeações dos indicados dos parlamentares para ocupar cargos na Máquina Estatal do governo federal. Até um dia desses, falavam que decisões assim significavam “aparelhamento” do Serviço Público pela agremiação partidária então confortavelmente instalada no poder. Ah, tá! Mas isso agora não vem ao caso, evidentemente. O atual governo faz isso, conforme o discurso das autoridades da hora, para “destravar” a economia brasileira e “criar as condições indispensáveis” para a retomada do crescimento econômico. Pois é, pois é, pois é.

Agora, como esquecer que o velho PMDB do presidente Michel Temer apoiou os 8 anos do governo do presidente Lula (PT), depois o primeiro mandato da presidente Dilma (PT), a impedida, e enquanto corria seu segundo mandato, o próprio Temer foi promovido de vice a titular, assumiu o poder para, enfim dizer a todos nós que a crise econômica nessa “terra em que se plantando tudo dá” somente será definitivamente solucionada, se aprovadas as famigeradas reformas trabalhista e da previdência. E alguém aí duvida que os congressistas irão faltar ao governo (o povo que se dane...) neste momento? Não tem jeito, em ocasiões assim sempre me vem à memória o saudoso Bussunda dizendo: “Ah, fala sério aí!”

Claro que este blogueiro que vos escreve pode muito bem estar totalmente equivocado, mas até agora não foi possível enxergar no noticiário produzido pela cobertura diária da imprensa, referente ao cotidiano da política nacional jogada pelos excelentíssimos ocupantes dos poderes Executivo e Legislativo, no âmbito federal, sinal do convencimento quanto ao propalado caráter imprescindível das reformas, por parte de quem quer que seja, sem aquela forma característica de negociação baseada no “é dando que se recebe”. O governo precisa de apoios e votos para aprovar sua reforma, convoca os parlamentares para um tête à tête, não raras vezes em jantares sofisticados em Palácio, e a maioria lá no plenário está formada nos termos que podem ser conferidos depois nas edições subsequentes do Diário Oficial da União (DOU) e nos mais diversos veículos de comunicação do dia seguinte às conversações.

O trabalhador comum e contribuinte, não necessariamente nesta ordem, fica numa posição extremamente desconfortável enquanto as autoridades estão ali nos altos escalões da República negociando essas reformas. Afinal de contas, todo mundo sabe que governo não tem dinheiro próprio para gastar, o dinheiro é do povo. Logo, o mesmo trabalhador que está vendo seu direito à, por exemplo, aposentadoria ser empurrado lá para longe no tempo, está pagando a conta assumida pelo governo federal em transações feito esse desconto de R$ 30 bilhões dado a, mais ou menos, 4 mil Prefeituras que deixaram que pagar as contribuições previdenciárias e se deram bem. Do cidadão, trabalhador, contribuinte, quem é mesmo que está cuidando? Ah! Em breve poderemos contratar previdência privada. Que alento!


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