A reforma da previdência como eufemismo para cortar direitos


Os reformistas só falam dos critérios para se receber benefícios mas se calam sobre a arrecadação, o custeio do sistema previdenciário

Segurados numa Agência do INSS. (Foto: Camila Simões/RPC)


Faz tempo que acompanhamos essa conversa de reforma da previdência, eufemismo para se referir a cortes de direitos dos segurados. Não se fala a respeito da arrecadação e custeio do sistema, no entanto. Isso de contar ao distinto público pagante sobre as condições necessárias para que o sistema tenha equilíbrio, sustentação econômico-financeira, ninguém toca no assunto. E atacam prioritariamente os benefícios que devem ser pagos a quem paga para ter direito a aposentadorias, pensões, auxílios, que, no discurso dos gênios reformistas, significam privilégios ou, mais distorcido ainda, favor de governos. Muitos analistas importantes não se cansam de dizer que o governo brasileiro é muito generoso. Uma ova! Previdência é uma modalidade de seguro, isso sim. Sem contribuição o sujeito não leva benefício algum para casa. A exceção, internautas que uma hora ou outra nos dão a alegria da visita a este espaço, tem a ver com os benefícios assistenciais, principalmente os instituídos pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), os amparos às pessoas portadoras de deficiências ou idosas. Trabalhadores rurais devem comprovar necessariamente o exercício do trabalho no campo, no caso dos segurados especiais, a propósito. Na visão dos caras que defendem desde sempre reformas, vários deles que batiam ponto em grandes bancos, sem contar aqueles que saem das equipes do governo e abrem suas próprias casas bancárias ou grandes escritórios de consultorias, benefício previdenciário seria algo como uma liberalidade de governantes nos moldes daqueles “pais dos pobres” eventualmente no poder e não fruto da contribuição do segurado à seguradora, no caso, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e as várias administrações de previdência no setor público. A despesa, sobretudo de governos com o pagamento dos beneficiários é sempre mencionada como “rombo”. Só que se esquecem de dizer que o sujeito pagou para receber o benefício. É assim que funciona. O camarada trabalha, todo mês desconta, no caso do servidor público, no mínimo, 11% sobre o valor total de seu salário, fazendo isso por 35 anos ou mais, e daí passa a receber. A despesa está alta demais? Bom, aí é outra conversa. O que os governos têm feito com o dinheiro que arrecadam dos seus empregados para o pagamento dos benefícios? Mas isso não vem ao caso, ao menos nos discursos pró-reforma. A impressão que se tem mesmo é que há uma disposição grande para cortar direitos e facilitar a operação dos bancos em mais um filão rentável, a previdência privada. Pois é. Prosseguindo para concluir, daqui a pouco esses geniais reformadores dos direitos dos outros devem mesmo é propor o fim da aposentadoria, resguardada a deles próprios, evidentemente. No mais, fico pensando o seguinte. Caso alguém resolva seguir o modelo de raciocínio desses bravos e espertos formuladores de reforma da previdência na área da construção civil, o cabra pegaria um sobrado para reformar e entregaria ao dono um quarto-e-sala sem vaga de garagem.


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