Entrevista: Fernando Leão fala sobre a saúde do homem em tempo de Novembro Azul


Informar e orientar a população masculina em relação aos cuidados com a própria saúde”, eis a expectativa para a palestra no Rotary Club de Trindade

Fernando Leão, urologista, estará em Trindade, nesta quarta-feira. (Foto: Divulgação)



O goianiense Fernando Franco Leão é um dos médicos mais conceituados em sua especialidade, a Urologia, no país. Especializado em doenças da próstata (cirurgia robótica e cirurgia em laser para Hiperplasia Prostática Benigna – HPB, “Próstata Aumentada”), doutor Fernando Leão opera nos hospitais 9 de Julho, Sírio-Libanês e Albert Einstein, em São Paulo, e Anis Rassi, em Goiânia. O médico goiano é também membro da Society of Robotic Surgery (SRS) e da American Urological Association (AUA), nos Estados Unidos, e da Société Internationale D’Urologie (SIU), no Canadá. E nesta quarta-feira (20), doutor Fernando Leão fará palestra sobre a saúde do homem, no Rotary Club de Trindade, uma entidade com a qual ainda não exerceu nenhuma atividade. A ação faz parte da campanha “Novembro Azul” adotada pelos rotarianos. Falamos com o doutor Fernando Leão e exclusivamente publicamos a seguir a entrevista.

Blog - O senhor tem algum relacionamento ou participação em atividades de Rotary Club?
Dr. Fernando Leão – Não tenho nenhum vínculo com o Rotary, nunca exerci nenhuma atividade aí com a instituição.

Blog - Tem alguma expectativa em especial sobre essa palestra no Rotary Club de Trindade?
Dr. Fernando Leão – A expectativa em relação ao evento aí no Rotary, são as mesmas para qualquer evento desse tipo, ou seja, tentar informar e orientar a população masculina em relação aos cuidados com a própria saúde, principalmente por conta da campanha do “Novembro Azul”, orientá-los em relação a melhor maneira de se prevenir em relação ao câncer de próstata. A expectativa é que, como qualquer ouvinte, ele passe a ser disseminador das informações e orientações para outras pessoas, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, para que a gente possa realmente criar um número cada vez maior de pessoas que têm um nível de conscientização e orientação aos cuidados da própria saúde.

Blog - Campanhas como esta do Novembro Azul ajudam mesmo a despertar uma maior conscientização do público masculino algo arredio aos cuidados com a saúde?
Dr. Fernando Leão – As campanhas em si são ferramentas poderosas em relação à questão da disseminação da informação, mas os canais de comunicação também exercem um papel importante, não só orientando e informando durante o período de campanha. Eu costumo dizer que a campanha vai de novembro a novembro. Ela não é pura e simplesmente o mês de novembro, então é todo ano. E além disso, as esposas, namoradas, parceiras, filhos e filhas, cada vez mais estarem atuantes com os homens de casa, o marido, o pai, o avô, para que eles realmente sejam estimulados, anualmente, a procurar o especialista e fazerem os seus preventivos, os seus cuidados em relação à parte urológica.

Blog - Digamos assim que o “terror” de boa parte dos homens é passar pelo exame do toque, nas consultas com médicos urologistas. Até que ponto é possível se fazer o diagnóstico evitando o toque ou isso é imprescindível, insubstituível?
Dr. Fernando Leão – Em relação ao exame físico, o toque retal, ele é uma ferramenta ainda utilizada, uma ferramenta que faz parte do protocolo de investigação e de avaliação desse paciente, é um exame necessário sim. Não existe nenhum exame que ainda o substitua. Então realmente é um exame que tem que ser feito. Não necessariamente fazer toda vez que for à consulta ao urologista, óbvio. Mas, de tempos em tempos, esse exame tem que quer feito sim no paciente. Os homens têm muito essa questão do tabu em relação ao exame, mas é uma coisa que vem mudando gradativamente. Essa geração de homens abaixo dos 55, 50 anos, já têm outro nível de conscientização da importância do exame. São pacientes mas participativos e mais assíduos no consultório do urologista. Essa geração de homens acima de 75 anos realmente são pessoas de uma cultura onde tinha-se essa questão do tabu, mas como eu falei, esse pessoal mais jovem, a população masculina mais jovem, de 55 anos abaixo, vem mudando isso aí por conta de campanhas de conscientização, o grau de informação, o nível de informação hoje é muito maior, a disseminação da informação hoje é mais fácil pelas ferramentas existentes atualmente, então consegue-se atingir um número de homens maior do que há 15, 20 anos

Blog - Outro fantasma que assombrava os homens era a impotência em casos de cirurgia da próstata. Essa nova técnica de cirurgia robótica e com raio laser eliminou completamente este risco?
Dr. Fernando Leão – Não zerou os riscos. O que a tecnologia faz, minimiza esses riscos, mas risco zero não existe. Tanto para o laser quanto para a robótica os riscos ainda existem, esses efeitos colaterais, mas são bem menores do que quando comparados a uma cirurgia convencional.

Blog - A propósito, essa nova técnica cirúrgica encontra-se disponível, ao alcance dos pacientes goianos e em Goiás?
Dr. Fernando Leão – Em relação ao tratamento com a cirurgia robótica, é uma cirurgia, uma tecnologia que já existe há 21 anos, mais ou menos, 21 anos no mercado internacional. Nasceu nos Estados Unidos. No Brasil, nós estamos com 11 para 12 anos de robô, no país. Ainda não temos em Goiás. A previsão de instalação da primeira plataforma robótica é para meados de 2020, mas nós temos Brasília e praticamente todos os outros grandes centros do país. É uma cirurgia onde conseguimos ter uma precisão cirúrgica maior e, consequentemente, temos resultados oncológicos melhores e resultados funcionais melhores. E o grau de agressividade desse tipo de cirurgia ao paciente é muito menos, ou seja, o paciente tem um pós-operatório muito mais confortável, menos doloroso do que a cirurgia convencional, que é a cirurgia aberta. Então, a agressão da cirurgia aberta ao paciente é muito maior. A cirurgia robótica consegue oferecer isso ao paciente. Agora, é claro que o robô sozinho não faz nada. Ele é uma máquina parada. O robô, na verdade, vai simplesmente replicar os movimentos que o cirurgião fizer no console. Então não adianta você ter um equipamento de ponta, como o robô, mas um cirurgião que não é cuidadoso, um cirurgião que não entende a anatomia, um cirurgião que não se dedique à cirurgia em si. É necessária essa condição técnica e essa condição de dedicação àquele momento por parte do cirurgião para que se consiga realmente ter os resultados esperados.

Blog - E quanto à prevenção, o que o homem pode fazer ao longo de sua vida para, digamos, envelhecer com mais saúde, principalmente no aspecto urológico? Isso é possível de se conseguir?
Dr. Fernando Leão – Em relação ao que o homem pode fazer no dia a dia é um estilo de vida saudável, em geral. Ter uma alimentação saudável, evitar o excesso de gordura animal nos alimentos, os vícios, o álcool, drogas ilícitas, cigarro, sedentarismo, sobrepeso e até mesmo a obesidade em si, são situações que agravam, aumentam o risco do paciente vir a desenvolver, não só em relação ao câncer de próstata, mas como qualquer outra doença, como qualquer outro tipo de tumores e principalmente também doenças cardiocirculatórias, doenças metabólicas, como o diabetes. O cuidado que ele tem que ter no dia a dia é o cuidado geral, ele se cuidar de uma maneira global, pensando o organismo de uma maneira global. Não existe assim uma situação específica que ele tenha que fazer para ter um grau de proteção maior, em relação ao câncer de próstata. São, atitudes generalizadas que ele vai ter um ganho indireto em todos os aspectos.

Blog - Existe algo de errado que o homem faz ao longo da vida que facilita o surgimento de problemas de próstata, especialmente o câncer?
Dr. Fernando Leão – É o contrário de tudo o que nós colocamos no fator de risco. Então, é melhorar o seu status de saúde. Tomar cuidado com o sobrepeso e a obesidade e procurar ter uma alimentação saudável em todos os aspectos. Cuidados com os vícios e bebidas, cigarros em geral.

Blog - O câncer de próstata é a segunda causa de morte dos homens no Brasil, segundo dados de organismos da área da Saúde. Mudar essa realidade é hoje em dia um desafio possível de ser alcançado, reduzindo o número de casos no país?
Dr. Fernando Leão – A campanha é um ponto importante em relação à tentativa de redução dessa taxa de mortalidade. Acredito que, como uma grande parte desses pacientes, a grande maioria são pacientes, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), assim que conseguirmos ter um atendimento melhorado, o governo conseguir oferecer um atendimento de melhor qualidade à população em geral, consequentemente, iremos reduzir, não só as taxas de complicações e mortalidade em relação a câncer de próstata, mas em várias doenças em si. É um pacote. Você conseguir melhorar a condição de vida da população brasileira, melhorar saneamento, melhorar o nível de entendimento dessa população, ela ter condição de ter acesso a uma alimentação melhor, ela entender que ela tem que se cuidar, conseguir replicar essas orientações para dentro da sua casa e você facilitar o acesso da população ao sistema de saúde, não só ao médico generalista, mas um acesso mais rápido ao especialista, ele conseguir realizar exames de uma maneira mais rápida, conseguir um agendamento cirúrgico de uma maneira mais rápida, então, consequentemente, haverá uma redução drástica nesses índices de intercorrência de mortalidades, um diagnóstico tardio. Você consegue melhorar todo esse cenário com medidas de saneamento básico e medidas de atendimento, de melhoria de atendimento à população em geral.


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