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Entre a política e a politicagem!

O amor testemunhado pela pessoa de Jesus de Nazaré pode ser considerado como a maior manifestação política de todos os tempos. No entanto, faz bem esclarecer que Jesus não era nenhum partidário político e muito menos pertencente à nobreza aristocrática da época. Pelo contrário, viveu como pobre na condição e na opção. Foi no encontro com a pobreza que soube revelar a riqueza misericordiosa de Deus. Foi olhando para a situação de miséria do seu povo que conseguiu ser fiel ao projeto do Pai. Foi na ferida existencial do humano que Jesus apresentou-se como “servo dos servos de Deus” até as últimas consequências. Jesus desceu da cruz os crucificados pela “não-política” e se crucificou em seus lugares, demonstrando que a política de Deus é dar a vida e não tirá-la.

Consciente de sua missão, Jesus recrutou um grupo de pessoas e as introduziu no discipulado do Evangelho e na escola da fraternidade. Entre estes era chamado de “Mestre”. Por outro lado, também havia outros mestres da sociedade, intitulados de “doutores da lei” e “senhores da política”. Enquanto Jesus facilitava, ao falar a linguagem dos menos favorecidos, estes complicavam e tributavam a vida dos oprimidos. Sem generalizações, podemos afirmar que os antigos fariseus nos fazem lembrar os políticos, de ontem e de hoje, que não solucionam, problematizam; não respondem, perguntam e fazem inquérito; não governam, simplesmente manobram.

Aos seus partícipes Jesus não ofereceu altos cargos nem reservou pastas. O único serviço que lhes confiou foi o testemunho do lava-pés, no qual aquele que quisesse ser grande deveria ser o servo de todos. Essa foi a política de Jesus: o serviço livre e desinteressado como fidelidade ao Pai Eterno! Nas reuniões com os seus discípulos, não havia projetos de leis, sistemas burocráticos ou interesses partidários. Havia sim partilha mútua na missão de se constituírem como homens honestos pela verdade, sensatos pelas atitudes e solícitos políticos pela prática do bem.

Jesus não formou um partido político, pois sua política era o Evangelho, mas lapidou e conscientizou os seus discípulos a viverem na integridade, sem se deixarem corromper por nenhum sistema adulterado pela corrupção. Excetua-se comente Judas: aquele que traiu a política do Evangelho pelo dinheiro e acabou sendo condenado pela sua própria traição mercantil.

Por tudo o que fez e viveu Jesus torna-se o protótipo de todos os que almejam conduzir os caminhos da política na retidão e na veracidade. Atualmente, cabe aos genuínos candidatos a missão de dignificar a política, sabendo que ela é falseada todas as vezes que se converte no “partido do dinheiro” ou nos “dossiês da sujeira”. Nesse sistema, a realidade passa a ter uma cotação, os projetos de lei são comprados, o mandato é penhorado pelos lobistas, a verdade é encoberta, o nepotismo é proliferado e os interesses do povo são substituídos em proveito próprio.

Deturpar a política é ferir a existência da sociedade, pois em sua gênese estão a honestidade e a ética como princípios fundamentais. Vale-nos, portanto, distinguir que a politicagem é negócio, a política é serviço. Politicagem é sinônimo de privilégios, política é antônimo de regalias pessoais. Politicagem é falsear as promessas eleitorais, a política é batalhar pela participação de todos na equidade pública de enriquecimento do município. Cabe-nos afirmar pelas urnas a eleição dos políticos e a destituição da politicagem, do mesmo modo que na colheita, onde se separa o trigo do joio.

Ademais, precisamos decretar o falecimento deste tipo de candidatura escondida sob o viés da mesquinhez, da falta de escrúpulos e da desonestidade, que erroneamente chamamos de política. A luta desenfreada para alcançar o poder é uma fraude da política, uma não-política. Matar o atual modo de fazê-la é anunciar o renascimento da verdadeira política. Nos tempos de outrora e, principalmente nos dias atuais, a política precisa deixar de ser uma profissão um arrimo familiar, para transformar-se em uma legítima vocação, como nos diz Rubem Alves: “De todas as vocações, a política é a mais nobre […] De todas as profissões, a profissão política é a mais vil”.

Por fim, nos resta uma fresta de esperança. Que os candidatos sejam mais sérios e não utilizem de meios ilícitos para dividir a opinião da população! Que palavras soltas e sem autorização pessoal não se tornem meios desonestos para confundir a consciência dos eleitores! Que a tramoia do poder seja deixada de lado! Que o bem comum seja colocado como centro das atenções do poder público! Que ninguém aproveite de oportunidades sutis para se colocar como “bonzinho” usando a imagem dos que lutam pelo bem comum dos fiéis!

Vamos rezar pelos nossos candidatos. A tentação do poder que corrompe e não se traduz em serviço está na alma de todo ser que respira. Até Cristo foi tentado pelo Diabo! Como não seria com aqueles que estão diante dos oásis financeiros das oportunidades de se enriquecerem ou se elegerem facilmente?! Rezemos e não fiquemos calados diante daqueles que se esqueceram que a política não se constrói à custa de opiniões, mas, sobretudo, na prática do bem!




Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.
Reitor da Basílica de Trindade e Mestre
em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.
Artigo extraído do jornal Santuário,
edição de Setembro de 2014, Ano VIII, Número 75.




Privatização e corrupção



Sempre fui e sempre serei contra todo tipo de privatização, terceirização, “parceria” ou coisas do gênero envolvendo patrimônio público. Privatização rima com corrupção. Aliás, privatização é a nova cara da corrupção. Repassam à iniciativa privada o patrimônio público, e em muitos casos, os próprios governantes viram sócios das empresas que vão usar o que é do povo para enriquecer seus proprietários, e claro, o político que “ajudou” na privatização.

Privatização rima com corrupção e também com incompetência. Quem privatiza assume que não dá conta de administrar e repassa a terceiros a tarefa que o povo lhe confiou. E não adianta dizer que terceirizar resolve todos os problemas, como diz aquele pastor candidato à presidência. Aqui em Goiás temos vários exemplos de privatizações fracassadas, apesar da propaganda oficial dizer o contrário.

O transporte coletivo é privatizado e pra ser comparado ao resíduo sólido que bebês deixam na fralda precisa melhorar muito. O serviço de telefonia no Brasil foi privatizado e hoje só funciona perfeitamente dentro de presídios. A saúde estadual em Goiás foi privatizada. Reduziu em até 75% o atendimento, fechou as portas e seleciona os pacientes mais rentáveis. A Comurg terceirizou sua frota de caminhões e o lixo tomou conta da cidade. Enfim, terceirizar não significa trocar a incompetência nata do “Estado” pela “competência” da iniciativa privada. Significa apenas que empresas vão ganhar dinheiro usando o que é nosso, e políticos vão enriquecer mais ainda com a “mãozinha” que recebem por repassar patrimônio público para amigos e apaniguados.

E nessas eleições de 2014 a gente ouve muito pouco os candidatos falarem sobre este grave problema do Brasil que é a tabelinha privatização/corrupção. Com exceção dos partidos mais à esquerda, os demais querem é mais privatização, mais terceirização, mais “parcerias” e outros nomes que dão à dilapidação do patrimônio do povo em nome de uma suposta “competência” privada. É tanta privatização, tanto repasse de responsabilidade, que daqui a pouco o povo vai perceber que os governantes "privatistas" abriram mão de governar, e portanto, são mais inúteis do que já são.













Laerte Junior é jornalista, comunicólogo e anarquista também,
hoje trabalha nas Rádios Difusora (AM) e Terra (FM).






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