Lázaro Antônio Neves Pereira, homem que fez de sua lente instrumento de fé, cultura e história

Lázaro enxergava muito além da imagem e expunha ao mundo sua visão da fé, da cultura e das tradições do nosso povo

Lázaro Neves: 19/11/1958 - 22/06/2025. (Fotos: Reprodução/Notícias na Rede)


por Hélio Pinheiro de Andrade, professor e ex-presidente da Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes


Nascido em 19 de novembro de 1958, em Anápolis (GO), Lázaro trilhou uma vida de dedicação à arte de olhar o mundo com profundidade e sensibilidade. Formado em Fotografia Profissional pelo Senac, ele construiu uma carreira marcada pelo talento, pela ética e pelo amor à cultura popular.

Como fotógrafo, foi muito mais que um simples registrador de imagens. Ele foi um contador de histórias visuais, um guardião da memória coletiva. Atuou em revistas como Casa e Flora, Foco e Recriando Cidadania. Foi Microempreendedor Individual desde 2013, com sede em Goiânia, trabalhando com fotografia editorial, eventos, still cinematográfico e produções audiovisuais.

A partir de 2014, Lázaro mergulhou de corpo e alma na documentação da Romaria de Carros de Bois da Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade. Sua lente acompanhou a jornada de fé de centenas de carreiros, transformando momentos simples em registros históricos de imenso valor cultural.

O resultado desse trabalho foi o livro e a exposição “Carreiros: Vivências de Fé nas Estradas da Romaria”, lançados em 2025. Sua contribuição também foi fundamental para o longa-metragem “Carreiros, Candeeiros e Seus Carros de Bois”, dirigido por Pedro Diniz, além dos curtas “Ainda Existe” e “A Caminhada da Fé”, que retrataram com beleza e respeito a cultura dos carreiros.

Lázaro também era membro da Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes, uma prova de seu reconhecimento como intelectual e artista comprometido com a cultura de Goiás. Mas o legado de Lázaro vai além das fotos e dos filmes. Vai além das exposições e das publicações.

Lázaro Neves e Hélio Pinheiro. (Foto: Reprodução)

Tive a honra e a felicidade de dividir com ele uma experiência muito especial: a produção do curta-metragem “Redescobrindo a Festa”, sobre a Festa do Divino Pai Eterno. Nesse projeto, pude dar meu testemunho de fé e contar o milagre da chegada dos nossos trigêmeos: Valentin, Maria Eduarda e Arthur. Um momento de muita emoção, que ganhou ainda mais significado graças ao olhar cuidadoso e respeitoso de Lázaro nas imagens. O curta resgatou imagens históricas de 1975, gravadas em Super 8 pelo diretor Ângelo Lima, mostrando uma Trindade que vivia a festa com simplicidade, humildade e fé genuína. Lázaro trouxe, com sua sensibilidade, a ponte entre passado e presente, entre memória e emoção.

Meu respeito, amizade e admiração por Lázaro são imensos. Tenho a honra de ser guardião de algumas de suas obras: duas fotografias que guardo com muito carinho — uma dos “Mascarados das Cavalhadas de Pirenópolis” e outra de um “Palhaço da Folia de Reis”. São mais que imagens, são fragmentos vivos da nossa cultura, eternizados pelas mãos de um artista que soube, como poucos, transformar fé, tradição e folclore em poesia visual.

Tive a grata oportunidade de conhecer suas obras, e mais do que isso, conhecer a grandeza da pessoa por trás da câmera. Lázaro enxergava muito além da imagem. Ele expunha ao mundo sua visão da fé, da cultura e das tradições do nosso povo. Foi, sem dúvida, um dos grandes embaixadores da cultura e do folclore goiano.

Hoje, a tristeza da perda se mistura com a gratidão por tudo o que ele nos deixou. As imagens, os filmes, os livros e, principalmente, as lembranças. Que a luz que Lázaro sempre soube captar tão bem continue iluminando sua nova caminhada. Descanse em paz, amigo. Seu legado viverá para sempre entre nós.


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