Vox Patris - Quando um sino badala para acordar a consciência

Que seu som alcance o homem violento, o agressor de mulheres, o corrupto de gabinete, o explorador dos pobres, o covarde que finge não ver o sofrimento alheio

Marcelo Lopes: Vox Patris, a voz que transforma. (Foto: Divulgação)


ARTIGO | Comendador Marcelo Lopes é empresário e presidente do Rotary Club de Trindade

Em Trindade, no coração de Goiás, o maior sino que badala no mundo foi instalado. Mais do que uma peça monumental de bronze, o Vox Patris — “Voz do Pai” — é símbolo e instrumento de uma urgência: a de fazer com que o som sagrado reverbere além das torres e alcance o que realmente importa — o coração humano.

O sino não veio apenas para anunciar o início de missas ou eventos religiosos. Ele chegou para provocar. Seu badalar é um chamado ao despertar coletivo. É como se cada repique fosse uma pergunta lançada ao vento: Onde estamos como sociedade? O que temos feito com a fé que professamos?

O Vox Patris traz consigo a responsabilidade de representar a voz de Deus entre os homens. E essa voz não deveria ser silenciosa diante das injustiças. Que seu som atinja os lares destruídos, os relacionamentos rompidos, e principalmente os comportamentos violentos que insistem em se esconder atrás da impunidade ou da hipocrisia.

Cada badalada pode ser entendido como um ato de prece — não apenas religiosa, mas social. Que seu som alcance o homem violento, o agressor de mulheres, o corrupto de gabinete, o explorador dos pobres, o covarde que finge não ver o sofrimento alheio. Que o ladrão desça da cruz e abandone o furto, mas também que o justo não sofra os cravos da injustiça social. Que a boca maldizente não perfure reputações com suas palavras.

Há também um clamor silencioso vindo das crianças abusadas, dos jovens oprimidos, das famílias feridas. Que o badalar do sino abale essas estruturas de violência invisível. Que não seja apenas bonito ao ouvido, mas incômodo ao comportamento que precisa mudar.

Vivemos tempos em que a fé tem sido, muitas vezes, reduzida a rituais sem transformação. O Vox Patris nos lembra que a fé verdadeira precisa gerar consequência. Não se trata apenas de rezar, mas de agir. Não basta estar na Igreja; é preciso ser Igreja. Uma Igreja que não tema mostrar o rosto de Cristo nos becos, nos presídios, nas praças e nas decisões políticas.

Que o som do sino também sirva para sacudir consciências acomodadas, inclusive dentro da própria religião. Que os altares se tornem lugares de escuta e acolhimento — e não apenas de discursos. Que o clero, os fiéis e todos os cidadãos se comprometam com o bem comum, com a justiça, com a vida plena.

A instalação do maior sino do mundo em Trindade é, sim, um marco. Mas que não seja apenas turístico ou técnico. Que seja um divisor de águas. Que represente o início de uma nova fase, em que o som do céu se torne gesto na terra. Porque não há sentido em um sino que badala alto se não ecoa dentro de nós.

Nota: Artigos assinam publicados nestes espaço trazem ideias e opiniões de quem assinam e não do titular deste blog.


Comentários

Anônimo disse…
Em um mundo onde o sagrado foi banalizado e muitas pessoas entraram nas igrejas, fazendo com que as igrejas se adaptassem aos costumes sociais, é necessário resgatar a essência do divino. Trindade, sendo um centro de fé, deve mostrar ao mundo a importância do sagrado. Não apenas Trindade, mas toda a população precisa começar a se voltar para Deus e redescobrir o valor do sagrado em suas vidas. Seu texto é muito valido por mostrar a importância do sagrado
Anônimo disse…
Parabéns. Eu gra de amigo,irmão e companheiro Sérgio pelo excelente mareria