Saiba mais sobre o autor do texto e diretor da peça “Arraial do Barro Preto, A História do Medalhão Fé”


Apaixonado pelo teatro desde os sete anos de idade, o ator e diretor Wenderson Morais fala um pouco de sua experiência

Wenderson Morais, ator e diretor de teatro. (Foto: Divulgação)

Wenderson Morais (30) é trindadense de nascimento, ator e diretor de teatro, uma paixão que nasceu quando tinha, mais ou menos, 7 anos de idade, ao assistir à encenação do “Casamento na Roça”, pelo Grupo Desencanto, durante os festejos juninos. “O meu mundo parou naquele exato momento. Foi muito mágico ver aquelas pessoas, aquelas roupas onde cada detalhe combinava cores e movimentos”, descreve Wenderson a impressão que ficou gravada em sua memória daquela primeira vez que assistiu a uma encenação. Wenderson estudou na então Escola de Artes Veiga Valle, hoje, Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França, e também no Instituto de Educação em Artes Professor Gustav Ritter. Atualmente, Wenderson Morais trabalha com um grupo de teatro formado por jovens, na Associação dos Rotarianos de Trindade (MATRI). Nos vários trabalhos já realizados, o destaque maior ficou por conta da peça “Arraial do Barro Preto, a história do Medalhão da Fé”, objeto com a imagem da Santíssima Trindade coroando Nossa Senhora, encontrado pelo casal de lavradores Constantino Xavier e Ana Rosa, considerado o marco inicial do que se conhece hoje em dia como a “Romaria do Divino Pai Eterno”, em Trindade, uma tradição de quase dois séculos. A peça foi recebida com elogios ao ser encenada em Trindade para um público muito receptivo que conferiu um sucesso à iniciativa sob o comando do jovem diretor que falou com exclusividade para o blog. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Blog – Como se deu o seu envolvimento com o Teatro?
Wenderson Morais – Bom, vamos dizer os meus primeiros passos. Eu creio, na época, ter uns sete anos de idade. Na rua de minha casa havia um evento de festa junina, realizado pela Telma Teles, onde foi anunciado um grupo de teatro chamado Desencanto, dirigido pelo grande diretor Amarildo Jacinto. Ali encenaram um espetáculo teatral, o casamento na roça. O meu mundo parou naquele exato momento. Foi muito mágico ver aquelas pessoas, aquelas roupas, cada detalhe combinando cores e movimentos levando moradores que ali estavam presentes a se encher de alegria. Então a partir daquele dia, eu tinha certeza do que eu queria me tornar, um envolvido com tudo aquilo, um ator, diretor ao qual eu pudesse construir mundos e pessoas do imaginário ou real, o mundo cultural, claro, de essencial aos meus olhos que, para mim, estava mais do que anunciado, eu precisava entender todo aspecto de uma vida cênica e, para isso, eu precisava estudar e muito.

Blog - Fale-nos um pouco sobre a sua formação de homem de teatro.
Wenderson Morais - Ingressei na minha primeira escola de artes chamada Veiga Valle, hoje, Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França. Ali fui solto na selva das artes da dramaturgia. Era um mundo sagrado, o qual me enchia os olhos, onde eu tinha que aprender, cenicamente, a construir, destruir e construir novamente, o ator que ali nascia em mim, levando para a vida inteira a frase de Boal: o ator é uma eterna ferramenta de linguagens. Mais tarde, já adolescente, resolvo me ampliar ainda mais obtendo conhecimentos no Instituto de Educação em Artes Gustav Ritter, onde, de perto, ainda vi com mais detalhes o quanto é profundo, competente, criativo e rigoroso o fazer artístico. Desde então nunca mais parei. Hoje, um homem de teatro, me faço a obrigação e interesse pelo Teatro onde sempre me empenho todos os dias de forma profissional a valorizar as artes cênicas causando encantamento e surpresas por onde passo com minhas ideias, sendo eternamente guiado pelas ditas palavras de Boal uma eterna ferramenta de linguagens.

Blog - Por quê escrever sobre o Medalhão de Barro?
Wenderson Morais – Sendo morador de Trindade, sempre tive um sentimento muito grande por esta linda história de fé: o medalhão da Santíssima Trindade, mas nunca havia tido a oportunidade de saber mais sobre o assunto, porém tudo tem seu tempo certo de acontecer. Digo eu que estava sendo preparado pelos meus avós, de quem sempre ouvia suas histórias de fé e devoção, da Romaria do Divino Pai Eterno. Que de muita inspiração me valeu a aceitar o bem-vindo convite de Dr. Claud Wagner a produzir um espetáculo teatral contando essa nossa raiz. No momento vi como um grande desafio, mas também vi que era a hora certa de aceitar e eu realmente estava preparado, pois poderia contar com toda confiança no selo de qualidade que foi a produção do Rotary Clube de Trindade e sua Associação dos Rotarianos (MATRI). No ato da escrita comecei a me sentir no dever disso, pois eu pertenço a esta cidade e sempre notei a grande importância desse fato e do morador de Trindade saber o quanto essa misteriosa medalha foi importante para o crescimento de nossa cidade que foi desenvolvida em volta de sua aclamada fé, então digo que a iniciativa plausível partiu do Rotary Clube de Trindade e sua Associação de Rotarianos (MATRI), à qual me tornei eternamente grato pela confiança em produzir um texto de minha autoria, Arraial do Barro Preto, a História do Medalhão da Fé.



Blog - Quais foram as suas referências, fontes de pesquisa, usadas por você para criar o texto?
Wenderson Morais - Como disse no comentário acima, minha grande fonte de pesquisa foram meus queridos avós, senhores desta terra, sempre devotos do santo da Trindade. Então da mesma maneira que seus pais também passavam o conhecimento da fé para sua geração, adorava escutar meu avô contar seus “causos” de assombração, suas brincadeiras de menino, a vida pacata da roça e como realmente eram suas épocas em festa de Romaria. Preocupei-me em contar com estas referências, a lembrança e os costumes antigos, para ir mais a fundo, como datas, primeiras famílias, locais e construções. A literatura do escritor Bento Fleury, autor de nossa cidade e que possui um acervo histórico de Trindade maravilhoso, foi perfeita. Na parte musical contei com os belos ouvidos do músico e também artesão Paulo Sérgio Gomes que me deu grandes indicações de duplas sertanejas, de música raíz, como Léo Canhoto e Robertinho, Tonico e Tinoco, levando a platéia direto à época do radinho de pilha e, claro, seus toques artísticos no cenário. A responsável pela criação da aparência do personagem foi a figurinista Gladimar Souza, que não poupou esforços em apresentar um contexto histórico de um vestuário de 1840. E, graças a Deus, com estas excelentes fontes de pesquisas e apoio cultural como, por exemplo, o Cineteatro Afipe, aí o meu propósito foi sucesso.

Blog - Houve assim um grande obstáculo durante a produção do texto Wenderson Morais – Não apenas um, mas muitos obstáculos, por exemplo, a coleta de material, documentos, registros, fotografia, passar para o aluno toda essa gama de conhecimento. Enfim, houve momentos em que pensei que não conseguiria, mas sempre repetia, “o que na vida não se tem obstáculos e dificuldades, também não se tem qualidades”. Digo sempre que o sucesso está nos detalhes e estes detalhes têm que ser merecidos, conquistados passo a passo. Então pulei cada obstáculo como se fosse um atleta e, para isso, pude contar encarecidamente com o trabalho da presidente da Associação dos Rotarianos (MATRI), Cristiana Silva, e de toda sua equipe que também ajudaram muito no meu processo de criação.

Blog - Enquanto você se debruçava sobre o material para escrever a peça, alguma coisa lhe surpreendeu?
Wenderson Morais - Eu sempre fui uma pessoa muito ligada à minha espiritualidade e ao escrever este texto pude perceber o quanto temos pontos a serem trabalhados sobre a nossa pessoa. Olha, me surpreendi bastante com cada um de meus personagens, em busca da verdadeira fé dentro de si; me surpreendi pelas dificuldades da época desse povo simples do “Arraial do Barro Preto” cheio de vontades e esperança, passando a mensagem de uma fé que nasceu, criou raízes e virou tudo isso que estamos vivendo hoje.

Blog - A história do Medalhão de Barro é conhecida pelos trindadenses e, claro, pelos devotos do Divino Pai Eterno. Isso provocou algum receio em você ao escrever a peça teatral, principalmente nesses tempos de debates muito ácidos, no país inteiro?
Wenderson Morais – Sim, tive muito receio e ao mesmo tempo muito cuidado com isso tudo. A fé é algo muito pessoal de cada um, e para contar a história de Trindade, que era minha intenção, eu também tinha que colocar a fé como o assunto, de forma delicada. Chamei primeiro as lembranças, o velhinho que adorava contar um causo, o café torrado no fogão a lenha, a modinha que tocava no radinho de pilha enquanto a família que vivia na roça cantava junto à luz de uma lamparina; o brinquedo que era uma boneca de milho ou um boizinho feito de giló; as longas viagens feitas a cavalo. Ali, de forma simples, fui abrindo o coração do espectador, por meio de suas emoções, fazendo cada um voltar no passado e ver que apesar de todas as dificuldades, o coração nunca deixava de acreditar e enxergar com os olhos da alma, sem julgar, sem criticar, apenas acreditar na fé.

Blog - E o retorno do público, critica também, o que você tem a dizer a respeito?
Wenderson Morais - Na saída da portaria, vi um grupo de senhoras bastante emocionadas e vieram me agradecer carinhosamente dizendo: “Meu filho, você contou minha história, era nossa vida naquele palco”. Um outro senhor me abraçou por um longo tempo, chorando disse: “Obrigado, me lembrei do meu falecido papai, com as lindas cantigas”. E o melhor foi ver as crianças saindo do Teatro e imitando uma das filhas mudas, personagem cômico do espetáculo, dizendo ter se divertido muito com elas, e outros que não conheciam a história ficaram encantados com tamanho detalhe de cada coisinha da produção, mostrando uma real vida de 1840. “Parecia um filme”, disse um expectador. Eu não tenho nada a reclamar, fiz de coração. As críticas foram positivas e os aplausos, sinceros.

Blog - Na sua opinião é mais fácil trabalhar um assunto ficcional ou abordar um tema da realidade das pessoas?
Wenderson Morais - Prefiro as ficções. Adoro um mundo imaginário, cheio de criaturas mágicas, os contos de fadas com suas princesas e castelos grandiosos. E quando se tem perigo, no fim todos vivem felizes para sempre, digo que essa é minha zona de conforto, a fantasia. Prefiro encher os olhos das pessoas com encanto e brilho, pois a realidade vemos todos os dias, cara a cara, nua e crua, seja ela qual for. Se for para escolher, sempre acabo levando o meu público para “Além, além do Arco-Íris”, como diz a minha personagem predileta, a Dorothy, da peça “O Mágico de Oz”, que foi também uma de minhas montagens com os alunos da Associação de Rotarianos (MATRI).

Blog - Trabalhar com cultura no Brasil não é fácil, em Goiás também, penso que em Trindade isso não fuja à regra. Queria saber sua opinião sobre este assunto.
Wenderson Morais – Sim, não é fácil. O nosso Brasil ainda passa por esta deficiência, talvez porque ainda nossos superiores não vêem a cultura como fonte de linguagem educacional. A minha opinião é que paramos um pouco pra ter este reconhecimento como necessidades. Sim, o teatro ensina e é uma linguagem de educação, da mesma maneira que hábitos como ler bons livros, visitar museus, cinemas, galerias de arte, enfim temos um leque enorme no sentido degustação cultural e a nossa cidade, graças a Deus, também está conseguindo entrar nesta lista. Por exemplo, hoje temos uma super-estrutura de um teatro luxuosíssimo, que é o Cineteatro Afipe, localizado no centro de Trindade, repleto de programações gratuitas, tais como filmes, espetáculos teatrais, exposições e palestras. Então ainda assim, com todas as dificuldades e desafios, nós artistas estamos tentando, resistindo para que todo trabalhador da arte seja valorizado e respeitado. Tem cultura em Trindade sim. Basta o cidadão ter o interesse em procurar e passar a ter este hábito como fonte de educação, pois não faz mal e só engrandece o nosso conhecimento. Eu super apoio entidades como a Associação dos Rotarianos (MATRI), pois, também, são fontes de conhecimento e formadores de novos artistas.

Blog - Depois dessa peça já existe algum novo projeto teatral em gestação por você e o seu grupo?
Wenderson Morais – Atualmente, estou envolvido em um novo projeto que é levar teatro de qualidade aos futuros formadores de opinião, que são as crianças. Adaptei um espetáculo infantil chamado “O Pequenino Grão de Areia”, texto que conta a história de um grão sonhador, apaixonado por uma estrela. A narrativa é cheia de personagens feitos de solidariedade, coragem e superação dos limites, mostrando o devido valor de se acreditar nos sonhos. De uma forma lúdica, a intenção é incentivar, desde cedo, a comunicação e o quanto é divertido aprender, para se familiarizar com a cultura, carinhosamente vamos todos coloridos até estes pequeninos, ali montamos um belo cenário no pátio da escola, e “o era uma vez” se inicia para estas crianças, onde muitas nunca tiveram a oportunidade de estar dentro de um teatro ou até mesmo nunca assistiram a uma peça cênica.


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