Discordo dessa conversa de que precisamos de heróis

A tarefa de tornar o Brasil, Goiás e Trindade um lugar melhor é trabalho de todos e de cada um de nós




Nestes dois anos de Operação Lava Jato em que fomos informados da roubalheira perpetrada por políticos, executivos e grandes empresários aos cofres da Petrobras, percebemos o desejo em muita gente pelo aparecimento de um herói nacional capaz de por fim à bandalheira responsável pela sangria do escasso dinheiro público rumo ao patrimônio de gente esperta e bem posicionada na zona cinzenta entre a política e os grandes negócios onde figura o governo federal, de uma forma ou outra, como pagador da festança.

E tome falatório de que “é preciso passar o Brasil a limpo”. Lá nos idos de 1990, se não me engano, o jornalista Boris Casoy fez dessa frase um de seus bordões, bem como o “isso é uma vergonha”, sempre que anunciava no seu telejornal, à época no Sistema Brasileiro de Televisão (Sbt), uma notícia escabrosa de corrupção. A gente ouvia muito isso naqueles tempos de Comissão que investigava a ação dos “anões do orçamento” e depois as peripécias do tesoureiro da campanha do presidente Collor de Mello, o saudoso PC Farias. Pois é, pois é, pois é...

Ah, sim! O que seria do PC Farias diante de criaturas feito essas que agora sabemos os nomes e o que fizeram na gestão de contratos da Petrobas com empresas tidas como exemplares no mundo dos negócios? Coitadinho do PC! Ele era neném se comparado a esses caras de hoje em dia, não há como negar. O pessoal criou métodos requintados de assaltar as empresas estatais e, por tabela, os bolsos dos contribuintes como um todo. Mas voltemos ao curso normal dessa prosa aqui, minha gente (Lembrei-me do Collor).

É lógico, evidente e notório que se faz necessário mudar muita coisa no País e não somente no setor público. Mas isso de passar o Brasil a limpo, seja lá por quem for, não passa de mera frase de efeito. Além do mais, quem seria o redator final e o editor? Algum espertinho da ocasião? Aqui não, violão! A tarefa é grande demais da conta para ser executada mesmo que seja por um grupo de elite no seio da Máquina do Estado. Aquela história de notáveis e intocáveis funciona bem em filmes de Hollywood, na vida real, a coisa é mais complicada. Discordo também de que precisamos de um herói ou mocinho. Na, na, ni, na, não! Precisamos, sim, é de cuidarmos melhor de nossas vidas sem ficarmos esperando que as coisas caiam do céu. Do firmamento pode até despencar sobre as nossas cabeças é a sempre bem-vinda chuva ou algum avião desgovernado provocando desastres e tristezas, como recentemente em São Paulo. E esse cuidarmos melhor de nossas vidas tem a ver também com a forma pela qual nos posicionamos frente às coisas públicas, principalmente na política municipal, estadual e federal.

De igual sorte, imagino que seria de bom tom que se parasse de enxergar o problema sempre no outro. Tipo assim, valendo-me aqui de uma expressão adolescente, o corrupto é sempre o outro; o desonesto é sempre a outra pessoa. Em se tratando de políticos então, nenhum presta mas o povo é bom absurdo. Contraditoriamente, enxergamos nos outros a corrupção e toda espécie de desvios de conduta condenáveis, mas entra ano e sai ano e o povo está ali elegendo e reelegendo pessoas que repetem os mesmíssimos padrões de comportamento à frente das instituições. Vale a pena ao menos pensar um pouquinho a respeito disso. Ou não?

Dia desses estava transitando pelas ruas centrais de Trindade quando um veículo à minha frente parou também no semáforo e eu, atrás dele, pude ler uma mensagem interessante no adesivo pequenininho. Dizia isso aqui: “Quer um país melhor? Seja honesto”. Pense bem se isso não é verdade. Se eu me tornar verdadeiramente honesto não vou ficar por aí fazendo besteira nem irei compactuar com a bagunça alheia, não é mesmo assim? Então, por essas e outras, deixemos de lado essas simplificações grotescas de que precisamos de um tutor ou um herói para cuidar de nós e até nos brindar com um futuro brilhante, imaginado por todos como o paraíso na terra. Não, senhor. Melhor é a gente assumir que a tarefa de tornar o Brasil, Goiás e Trindade um lugar melhor, em todos os bons sentidos, é um trabalho de todos, e de cada um de nós. E mais não digo nem me foi perguntado.


Comentários

Arquivaldo Bites disse…
Olá Sérgio, há muito tempo não passava por aqui. Retorno e fico feliz em ler este seu artigo. Parabéns e continue assim. Abraços de Arquivaldo Bites.