Para ser político a pessoa tem que ser “gente da gente”...


Não faz muito tempo vi alguém criticando um líder político de Trindade e na argumentação dizendo que o fulano “nunca deu uma balinha para um pobre”. E isso então é algo desqualificador para o político, no entendimento daquele crítico. Desnecessário dizer que boa parte da população faz coro com esse tipo de afirmação. Espera-se que o político seja alguém que esteja sempre distribuindo coisas e principalmente favores para quem quer que o procure, a qualquer hora, situação ou lugar.

O bom político também parece ser aquele cara tipo “gente boa” ou “gente da gente”. O político de verdade, no imaginário coletivo, tem sempre um sorriso largo no rosto e jamais perde uma oportunidade de apertar a mão de quem conhece e de quem nunca viu mais gordo. Basta observar quando numa festa chega um político ou pretenso, os neófitos na atividade. O cabra passa a se enxergar como alguém que todos ali presentes estão ansiosos por tocar. Daí a pessoa sai de mesa em mesa sorrindo e apertando mãos por tudo quanto é lado. Ah, sim! E as saudações, hein? “Meu líder” pra cá; “E aí, campeão”, pra lá. Para as mulheres então é “princesa” para as mais novas; “querida”, minha “amiga”, para as mais vividas, um show de fofura fartamente distribuída para todas.

Já perdi a conta de quantas vezes ouvi alguém falando que o fulano de tal é metido, chegou na festa de casamento dos filhos de sicrano, foi direto para a mesa dele e não cumprimentou ninguém. Já o outro político chegou no mesmo lugar e foi todo gentilezas e pegou na mão de todo mundo. É isso aí o quer mais tenho escutado a respeito do que muita gente enxerga como sendo um modelo ideal de comportamento do político. E não é só isso. Tem gente que critica um político porque quando está no carro fica com os vidros escurecidos levantados. O ideal para muitos é que o cara estando na política só viaje de carro com os vidros abaixados, acenando e gritando todos com os quais vai cruzando pelas ruas e avenidas. Não é isso mesmo? Exagerei até aqui?

Esse figurino do político é coisa antiga, todo mundo sabe disso. Não se trata de algo que começou por agora não. Mas nos dias de hoje em que o acesso à informação é fácil e direto, bem que o pessoal poderia se esforçar para modificar um pouquinho isso aí. Posso estar redondamente enganado, mas se achamos que ser político é agir dentro desse modelo, legitimamos, consequentemente, aspectos terríveis da prática desse pessoal quando no exercício do poder de representação popular. Até porque, nem todo cumprimento ou sorriso traduz o sentimento verdadeiro da pessoa. Não raras vezes, alguém duvida?, o cabra está sorrindo para o seu interlocutor, mas na verdade queria mesmo é mandá-lo para a “puta que o pariu!”.

E com isso refiro-me ao fato corriqueiro do político em campanha prometer uma coisa e, no poder, fazer, muitas vezes, algo totalmente diferente, o contrário mesmo. A maioria dos “brasileiros e brasileiras” se lembra perfeitamente de um presidente da República que se elegeu defendendo a economia de mercado, mas ao tomar posse fez um vergonhoso confisco dos ativos da população que se encontravam no sistema bancário nacional. E o que não dizer daqueles sujeitos que se candidatam por um partido da oposição, conseguem os votos e são eleitos, mas mudam para o partido do poder ou da situação na cara dura, apenas para apoiar o governante da ocasião e, lógico, recebendo alguma coisa em troca. Isso é o rame-rame da política e faz tempo.

Não tenho ilusão nenhuma em relação à mudança desse paradigma (que palavra é essa!) no curto ou médio prazos. Todavia, penso sim que algo nessa direção já está mudando, muito lentamente ainda, mas haverá um tempo em que, para começo de conversa, o político não será mais visto preferencialmente como o “gente boa”, o “gente da gente”. É isso aí!

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