Brasil: Um Desempenho Alarmante em Alfabetização e a Necessidade de Mudanças Urgentes

O desempenho alarmante do Brasil no PIRLS em 2021 é um alerta para a necessidade de repensar e transformar nosso sistema educacional

    Paulo Afonso Tavares. (Foto: Reprodução)


No final de 2021, o Brasil participou pela primeira vez do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), uma avaliação que analisa a efetividade da alfabetização e as habilidades de leitura de alunos do 4º ano do ensino fundamental em 65 países ou regiões. Infelizmente, o resultado foi alarmante: o Brasil ficou entre os últimos colocados, com uma média de 419 pontos, acima apenas de Jordânia, Egito, Marrocos e África do Sul.

A posição desfavorável do Brasil no PIRLS evidencia as deficiências do nosso sistema educacional e reforça a urgência de mudanças significativas. A avaliação contou com a participação de 400 mil estudantes, e no Brasil, as provas foram realizadas após quase dois anos de escolas fechadas devido à pandemia de Covid-19. Dos 4.941 estudantes brasileiros que participaram da amostra, quase 75% estavam abaixo do nível de proficiência esperado no 4º ano escolar, enfrentando dificuldades para responder a perguntas simples, como reproduzir uma informação de um texto. Apenas 13% atingiram nível alto ou avançado do conhecimento esperado para essa etapa.

Diante desse cenário preocupante, é fundamental analisar as causas e adotar medidas para melhorar o desempenho dos alunos e reverter essa situação. Entre os fatores que contribuem para o baixo desempenho estão a desigualdade socioeconômica, a falta de investimento em educação e a utilização de metodologias de ensino ultrapassadas.

A desigualdade socioeconômica no Brasil afeta diretamente o acesso e a qualidade da educação. Muitos estudantes de baixa renda enfrentam dificuldades para frequentar a escola regularmente, devido à falta de recursos e de apoio familiar. Além disso, a falta de investimento em educação se reflete na infraestrutura precária das escolas, na falta de materiais didáticos de qualidade e na baixa remuneração dos professores, o que dificulta a atração e a retenção de profissionais qualificados.

Outro aspecto importante é a adoção de metodologias de ensino inovadoras e focadas no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. Investir na formação continuada dos professores e no uso de tecnologias educacionais também é fundamental para elevar o nível de ensino no país. Além disso, é preciso repensar a abordagem pedagógica e promover a implementação de estratégias que incentivem a leitura crítica e reflexiva.

Para reverter o cenário alarmante revelado pelo PIRLS em 2021, o Brasil precisa implementar medidas efetivas de investimento em educação, promoção da inclusão e inovação pedagógica. Algumas ações que podem ser adotadas incluem a ampliação dos investimentos em infraestrutura escolar, a valorização dos profissionais da educação, a implementação de políticas de inclusão e equidade, e o incentivo à adoção de metodologias de ensino mais inovadoras.

Além disso, é fundamental que as políticas educacionais sejam elaboradas com base em evidências e pesquisas que comprovem sua eficácia. A cooperação entre governos, escolas, professores, famílias e comunidades é crucial para o sucesso dessas iniciativas. É necessário, ainda, estabelecer metas claras e mensuráveis para acompanhar o progresso e garantir que os recursos sejam aplicados de forma eficiente e eficaz.

Outra medida importante é o fortalecimento dos programas de formação de professores, garantindo que os profissionais da educação estejam preparados para lidar com os desafios do ensino atual. Isso inclui o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, o domínio de novas tecnologias e a capacidade de adaptar-se às demandas de um mundo em constante transformação.

Também é fundamental que sejam promovidos projetos que incentivem a leitura e a escrita desde os primeiros anos de vida, estimulando o interesse das crianças pelos livros e pelos diferentes tipos de texto. Essas iniciativas podem ser realizadas tanto no ambiente escolar quanto fora dele, envolvendo bibliotecas, organizações não governamentais e o poder público.

Além disso, é importante investir em programas de apoio pedagógico, que possam identificar precocemente as dificuldades dos alunos e oferecer suporte adequado para superá-las. Isso inclui a implementação de ações de reforço escolar, tutorias e atividades extracurriculares que complementem e enriqueçam o aprendizado.

Em resumo, o desempenho alarmante do Brasil no PIRLS em 2021 é um alerta para a necessidade de repensar e transformar nosso sistema educacional. Implementando medidas efetivas de investimento em educação, promoção da inclusão e inovação pedagógica, poderemos reverter esse cenário e garantir um futuro mais promissor para as próximas gerações de brasileiros. Para isso, é fundamental que a educação seja encarada como uma prioridade nacional, e que todos os envolvidos no processo educacional trabalhem juntos para construir um sistema de ensino mais justo, inclusivo e eficiente.

Paulo Afonso Tavares é professor e jornalista, doutorando em História na Universidade Federal de Goiás e mestrando em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC GOIÁS.

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