O golpe que não veio, mas que mora no peito
O Brasil não quer voltar ao passado. O que ele quer é sair desse presente que apodrece.
Marcelo Lopes: O golpe em foco. (Foto: Reprodução)
ARTIGO | Comendador Marcelo Lopes é empresário, psicanalista, rotariano e maçom
Por que a imprensa, os políticos e os formadores de opinião não se fazem a pergunta mais incômoda de todas: por que tantos brasileiros, gente comum, aderiram à ideia de um golpe?
Não seria porque a democracia prometida se tornou um teatro decadente, onde o povo só entra como figurante e sai como culpado?
Não, o Brasil não quer a ditadura de volta. Quer ordem. Quer progresso. Quer o que está escrito na bandeira — e nunca foi entregue.
Depois de décadas de “liberdade”, de “eleições limpas”, de “Estado democrático de direito”, o brasileiro continua pagando imposto de primeiro mundo pra viver em condições de terceiro.
Se quer viver com dignidade, tem que pagar tudo de novo: saúde, segurança, educação… e ainda ser grato.
A esperança virou meme. A urna virou piada. O Congresso virou balcão. E o povo — esse povo bonito, suado, sonhador — virou chacota.
Então, um dia, elegeram um capitão. Veio da caserna, com discurso duro, com moral de quartel. Não veio com tanques. Veio com votos. Os militares voltaram — não pela força, mas pelo desejo popular.
E isso, curiosamente, não entrou nos editoriais. Não virou manchete. Não virou série no Globoplay.
Preferiram dizer que o povo era ignorante. Mas não perguntaram: o que a democracia fez com o povo pra ele começar a sonhar com a farda?
Não é que queiramos a volta dos porões da tortura. Queremos a luz da decência. Queremos um país que não nos humilhe por sermos honestos. Queremos justiça que não tenha preço. Queremos que a esperança não seja uma anedota cruel.
Sim, o povo sonhou com golpe. Mas sonhou como quem sonha com um remédio amargo. Sonhou porque não aguenta mais ser enganado por palavras doces.
É triste. É doloroso. Mas é humano.
E talvez seja mais justo perguntar por que o povo quis sair da democracia, do que fingir que isso nunca aconteceu.
Porque se a democracia não for também pão, remédio, escola, teto, respeito e justiça - ela é só um papel assinado entre os poderosos, sem validade na favela.
Não foi um golpe que tentaram dar. Foi um grito. Um grito torto, confuso, desesperado. Um grito de quem cansou de ser usado como escada e como desculpa.
O Brasil não quer voltar ao passado. O que ele quer é sair desse presente que apodrece. Quer sair desse ciclo de promessas quebradas, de políticas que não servem ao povo, de elites que só sabem mandar calar.
Quer um futuro que valha a pena. Quer um país que se olhe no espelho e não se envergonhe.
Mas enquanto essa pergunta não for feita - enquanto a elite se contentar em chamar o povo de burro — o grito por intervenção continuará ecoando no silêncio da desesperança.
Porque o Brasil de hoje, o Brasil que falha, o Brasil que nos esmaga com impostos e nos devolve desprezo… esse sim é um regime de exceção. Mas disfarçado de democracia.
______
NOTA: Artigos publicados neste espaço trazem ideias e opiniões de quem os assinam e não do titular deste blog.
Marcelo Lopes: O golpe em foco. (Foto: Reprodução)
ARTIGO | Comendador Marcelo Lopes é empresário, psicanalista, rotariano e maçom
Por que a imprensa, os políticos e os formadores de opinião não se fazem a pergunta mais incômoda de todas: por que tantos brasileiros, gente comum, aderiram à ideia de um golpe?
Não seria porque a democracia prometida se tornou um teatro decadente, onde o povo só entra como figurante e sai como culpado?
Não, o Brasil não quer a ditadura de volta. Quer ordem. Quer progresso. Quer o que está escrito na bandeira — e nunca foi entregue.
Depois de décadas de “liberdade”, de “eleições limpas”, de “Estado democrático de direito”, o brasileiro continua pagando imposto de primeiro mundo pra viver em condições de terceiro.
Se quer viver com dignidade, tem que pagar tudo de novo: saúde, segurança, educação… e ainda ser grato.
A esperança virou meme. A urna virou piada. O Congresso virou balcão. E o povo — esse povo bonito, suado, sonhador — virou chacota.
Então, um dia, elegeram um capitão. Veio da caserna, com discurso duro, com moral de quartel. Não veio com tanques. Veio com votos. Os militares voltaram — não pela força, mas pelo desejo popular.
E isso, curiosamente, não entrou nos editoriais. Não virou manchete. Não virou série no Globoplay.
Preferiram dizer que o povo era ignorante. Mas não perguntaram: o que a democracia fez com o povo pra ele começar a sonhar com a farda?
Não é que queiramos a volta dos porões da tortura. Queremos a luz da decência. Queremos um país que não nos humilhe por sermos honestos. Queremos justiça que não tenha preço. Queremos que a esperança não seja uma anedota cruel.
Sim, o povo sonhou com golpe. Mas sonhou como quem sonha com um remédio amargo. Sonhou porque não aguenta mais ser enganado por palavras doces.
É triste. É doloroso. Mas é humano.
E talvez seja mais justo perguntar por que o povo quis sair da democracia, do que fingir que isso nunca aconteceu.
Porque se a democracia não for também pão, remédio, escola, teto, respeito e justiça - ela é só um papel assinado entre os poderosos, sem validade na favela.
Não foi um golpe que tentaram dar. Foi um grito. Um grito torto, confuso, desesperado. Um grito de quem cansou de ser usado como escada e como desculpa.
O Brasil não quer voltar ao passado. O que ele quer é sair desse presente que apodrece. Quer sair desse ciclo de promessas quebradas, de políticas que não servem ao povo, de elites que só sabem mandar calar.
Quer um futuro que valha a pena. Quer um país que se olhe no espelho e não se envergonhe.
Mas enquanto essa pergunta não for feita - enquanto a elite se contentar em chamar o povo de burro — o grito por intervenção continuará ecoando no silêncio da desesperança.
Porque o Brasil de hoje, o Brasil que falha, o Brasil que nos esmaga com impostos e nos devolve desprezo… esse sim é um regime de exceção. Mas disfarçado de democracia.
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NOTA: Artigos publicados neste espaço trazem ideias e opiniões de quem os assinam e não do titular deste blog.
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