Desmatamento em Goiás: 153,35 km² de Cerrado Perdidos e Um Futuro em Risco

Escolhas políticas que favoreçam a destruição do Cerrado são não apenas danosas para o meio ambiente, mas também minam as possibilidades de desenvolvimento sustentável para o estado de Goiás

Paulo Afonso fala sobre desmatamento do cerrado. (Foto: Reprodução)

ARTIGO | Paulo Afonso Tavares é professor e jornalista, doutorando em História na Universidade Federal de Goiás (UFG) e mestrando em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC GOIÁS


No artigo que publiquei na última quarta-feira (7/06), apresentei dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que mostravam um aumento de 83% no desmatamento do Cerrado em relação ao mês de maio do ano anterior. Infelizmente, a situação tem se deteriorado. Uma matéria jornalística publicada ontem, terça-feira (13/06), no jornal O Popular, por Deivid Souza, revela que "Goiás derruba por dia 100 hectares de vegetação em meio a PL que flexibiliza proteção".

Esses dados são provenientes do Relatório Anual de Desmatamento 2022, elaborado pela rede MapBiomas. Eles indicam que o desmatamento em Goiás aumentou 17% nos primeiros cinco meses do ano, com a vegetação nativa do Cerrado sendo destruída a uma média de 101,5 hectares por dia - equivalente a cerca de cem campos de futebol. O total, no período, foi de 15.335 hectares ou 153,35 km2, um aumento expressivo em comparação aos 130,7 km2 do mesmo período em 2022.

Não há dúvidas de que o poder público, especificamente os nossos deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Goiás, necessita implementar medidas para conter esse desmatamento catastrófico. Entretanto, a nossa Casa de Leis aprovou um Projeto de Lei (PL 350) que estabelece, segundo especialistas em Direito Ambiental, um novo marco temporal para o Código Florestal.

Na visão da advogada Luciane Martins de Araújo, doutora em Ciências Ambientais, o Projeto de Lei "é uma forma de legalizar irregularidades. Eu desmatei irregularmente, sem autorização e, em face disto, eu apenas vou ter de fazer uma compensação, mas os valores (a serem pagos) são pequenos. Isto não traz nenhum ganho para o Cerrado". O Código Florestal já anistiou desmatadores que cometeram infrações até julho de 2008. Agora, o Projeto de Lei propõe estender essa anistia para crimes cometidos até dezembro de 2019.

Apesar da aprovação deste Projeto de Lei pelos nossos parlamentares, a sociedade goiana tem se mobilizado em esforços para barrá-lo. A "Mobilização Veta Caiado", formada por entidades da sociedade civil organizada, lançou uma carta aberta expondo as dez ameaças que o Projeto de Lei representa para o meio ambiente. Os apelos populares se dirigem ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado, com a esperança de que ele vete esse projeto de lei. A necessidade de preservar o Cerrado em Goiás nunca foi tão urgente.

O Cerrado é mais do que um bioma: é um elemento vital que abriga uma biodiversidade rica e única, atua na regulação do clima e constitui a fonte de várias bacias hidrográficas brasileiras. É parte integrante da identidade cultural de diversas comunidades indígenas e quilombolas.

Em Goiás, o equilíbrio ecológico e a sustentabilidade econômica estão intimamente ligados à preservação do Cerrado. O turismo ecológico, a agricultura sustentável e a exploração responsável dos recursos naturais do Cerrado são oportunidades econômicas valiosas que dependem da saúde e integridade deste bioma.

Escolhas políticas que favoreçam a destruição do Cerrado são não apenas danosas para o meio ambiente, mas também minam as possibilidades de desenvolvimento sustentável para o estado de Goiás. Elas representam a perda da casa, da história e das tradições de muitas comunidades que dependem desse bioma para sua sobrevivência e modo de vida.

Preservar o Cerrado é, portanto, uma obrigação para com as futuras gerações. É garantir que elas possam desfrutar de suas belezas, aprender com sua riqueza biológica e cultural e beneficiar-se das oportunidades econômicas que ele pode oferecer.

Nesse contexto, o veto ao Projeto de Lei 350 pelo governador Ronaldo Caiado é uma ação crucial. Ele representaria um compromisso claro com a preservação do Cerrado e o futuro sustentável de Goiás. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para o poder público mostrar que está disposto a escutar e responder aos apelos da população, fazendo escolhas que valorizem e protejam nosso valioso patrimônio natural.


Comentários

Excelente artigo Professor Paulo Afonso, precisamos lutar pela preservação do nosso Cerrado Goiano. Toda a população manifestando pelo veto do Projeto de Lei 350.