Coisas que talvez só acontecem no comércio de Trindade

O comerciante sem troco no caixa preferiu não me vender uma garrafa de água mineral


Blogueiro chateado por não ter conseguido comprar uma garrafa d'água.



Tarde de sábado com Sol e alguma ameaça de chuva no céu de Trindade, fazer o quê? Caminhar, intercalando a peleja com umas corridinhas leves, eis aí uma boa pedida, pensei, decidi e executei tudo assim muito rápido, bem diferente do meu modo de levar a vida. Dizem que é importante a gente manter o corpo em movimento, o que me remete ao bordão de um dos milhares e impagáveis personagens da “Escolinha do Professor Raimundo”, o Paulinho Cintura, que dizia: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Pois é, pois é, pois é...

Os entendidos em manutenção da saúde humana costumam afirmar que exercitar-se com alguma intensidade e rotina faz um bem danado ao organismo da gente como um todo. Os indicadores de desempenho do corpo humano que se pode verificar, com prescrição médica, mediante a realização de exames laboratoriais de sangue, fezes, urina, radiografias, tomografias, enfim, de uma série de possibilidades de se avaliar o quadro clínico do mamífero bípede que gosta de se achar poderoso, mostra se o cabra está bem ou não, em números e nomes complicadíssimos para um mortal comum pronunciar e quem dirá, entender aquele troço.

De toda forma, a gente até sente mesmo algumas melhorias nos níveis de colesterol, pressão sanguínea, açúcar no sangue, ácido úrico e essas coisas todas que nos preocupam quando estabelecemos o costume de praticar alguma atividade física. A propósito, dia desses, encontrei-me com um senhor, já bastante entrado em anos, numa das minhas andanças pelas ruas de Trindade, que me falou da melhora que vinha experimentando por ter se decidido a caminhar mais e evitar ficar sentado o dia inteiro diante da televisão. “Já estou conseguindo ficar de pé e encostar as pontas dos dedos nos meus pés”, me disse sorrindo, meio que comemorando a façanha, aquele senhor de raros cabelos brancos e uma barriga proeminente também.

Puxa vida, como sou prolixo! Estou aqui a escrever sobre essas coisas, mas parece que meu objetivo era falar de outro assunto. O que será? Ah, sim! Lembrei-me agora! Havia Sol forte brilhando sobre a “Velha Trindade da Fé e do Amor” no final da tarde deste sábado, e algumas nuvenzinhas com um cinza mais escuro se faziam presentes. Aquilo até podia resultar em alguma chuva, mas não choveu nada não. O caso era que a temperatura estava alta, estava um calor típico de nossos dias e deu sede neste que vos escreve agora.

No trajeto escolhido para fazer a caminhada deste sábado espremido pelo feriado de sexta-feira de Tiradentes e o domingo, havia (como assim?), não senhor, continua havendo uma lanchonete dessas de fast food. Eu sentindo sede logo no início do exercício, com uma nota de dez reais no bolso, imaginei que solucionaria facilmente o meu problema hídrico comprando uma garrafa de água mineral. Ledo engano.

Arquivo do Google.
Pode até ser que este blogueiro quando se deixa encorporar pelo espírito de cliente, consumidor, se torne uma criatura sensível demais da conta. Tudo é possível. Digo isso porque, não raras vezes, entro num determinado estabelecimento comercial por uma porta e saio imediatamente dali sem falar com ninguém, por sentir que não fui bem recebido no local. Coisa de doido, será? Sabe aquilo de você entrar numa loja ou restaurante e ninguém, garçom, atendente, seja lá quem for, sequer olhar pra você, ainda mais dizer “bom dia”, “boa tarde”, “posso ajudar”, então?

No episódio deste sábado foi um pouquinho diferente. Entrei na lanchonete e fui direto às geladeiras com as bebidas à disposição de quem quiser comprá-las. Era o meu caso. Eu queria porque queria uma garrafa de água mineral. Aquele papo de querer é poder não encontra correspondência na realidade nem mesmo em um caso simples assim, uma relação comercial, de cliente e comerciante. Eu queria matar a sede, tinha dinheiro suficiente no bolso, mas fiquei no ora veja.

Como eu ia dizendo, abri a geladeira, peguei uma garrafa de água mineral, dessas de 500 ml, cujo preço é meio que tabelado pelos agentes do mercado por algo em torno de R$ 2,00. Isso na rua por aí, pois nas lanchonetes de aeroportos e shopping centers, os caras metem a mão nos bolsos dos consumidores. Aliás, porque cargas d’água os preços são tão caros naqueles lugares? O Procon devia se tornar mais atuante e talvez autuar mais comerciantes ali naqueles nichos de mercado absurdamente careiros. Ou não, vai saber.

Epa! Onde eu estava mesmo? Ah, sim! Com a garrafa na mão e pensando na morte da bezerra, fui andando tranquila e pensativamente na direção do caixa. Vou até o Pontakayana hoje e forço muito os meus joelhos já doloridos ou fico mesmo aqui por perto, a fim de “evitar a fadiga”, como dizia o Jaiminho, aquele carteiro rotundo e preguiçoso do Chaves? Não defini a distância que iria percorrer, pois ao me aproximar do caixa eis que o rapaz, digamos assim, foi cruel comigo, me cortou totalmente o barato e acabou com a minha graça.

O cara, antes que eu me encostasse na bancada onde ficam os caixas da lanchonete, foi logo me perguntando: - “Tem dinheiro trocado? A gente ainda não abriu”. Putzgrila! Ali eu me lembrei de, ao entrar na loja, ter visto um outro rapaz limpando o piso e arrumando mesas e cadeiras lá fora, numa espécie de puxadinho do estabelecimento. Ai, ai, ai, ai, ai, o camarada está no comércio, mas não tem troco.

Claro que eu fiquei, como dizer, chateado. Gozado, me esqueci de que estava com sede. Não foi preciso beber nenhum líquido. Deu vontade de procurar o responsável e falar assim: - Criatura, você é comerciante ou está de brincadeira? Vai atender mal assim lá longe! Fiz nada não. Nem sabia se o local tem SACO (Serviço de Atendimento ao Cliente Ofendido) e falei para mim mesmo: - Foda-se, água a gente compra em todo lugar. Deixa esse povo ruim de atendimento bater cabeça, pois o mercado costuma premiar os bons e punir os ruins. A tal da seleção natural da vida, vale também para o comércio. Os bons permanecem, os fraquinhos somem com o tempo.

Todavia, antes de terminar essa que era para ser apenas uma notinha, mas foi ficando comprida toda vida, você não concorda que o meu relato é de um trem esquisito demais da conta isso? Trindade já não é mais uma cidadezinha dormitório qualquer e tem no turismo sua principal atividade econômica, o que requer um setor de comércio e serviços com atendimento de qualidade ao cliente. Ah, tá! Não sou turista, mas a relação que faço é a seguinte: se o nativo é mal atendido, qual a garantia de que o visitante receberá melhor atendimento? Ah, mas deixemos essas elucubrações de lado e caminhemos para o epílogo.

Agora, é de rocha, vou acabar isso aqui de uma vez por todas. Não comprei água nem senti sede, mas caminhei e corri um pouco, conforme o meu planejamento estratégico para aquela atividade. O percurso, curioso internauta, foi de pouco mais de 10,5 quilômetros. Quer dizer, fui e voltei, evidentemente, da Avenida Rondônia até ao Pontakayana. Bebi água em casa mesmo e, melhor ainda, economizei meus dois reais. Fico por aqui e mais não digo nem me foi perguntado.


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