A mudança a partir dos gêneros textuais.

Alunos da Escola Municipal Cirandinha.
Educação pública de qualidade virou jargão. As redundâncias em torno dessa ideia fazem com que muitos educadores desacreditem que essa possibilidade de qualidade torne-se realidade.

Os salários, os planos de carreira, a carga horária, a infraestrutura das escolas, as novas propostas de trabalho, a família, o aluno, são apontados como os principais fatores para a não ocorrência dessa qualidade, mas precisamos nos perguntar: se todos os fatores apontados fossem solucionados e ainda assim não houvesse a mudança na prática pedagógica e postura do professor a qualidade viria?

A resposta pode estar bem próxima de nós. Com a adesão do Pacto Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa, do Ministério da Educação e Cultura (MEC), a Secretaria Municipal de Educação de Trindade está investindo na formação continuada dos professores do bloco de alfabetização (1º, 2º e 3º anos) e as mudanças são perceptíveis, é o caso da turma de 3º ano A da Escola Municipal Cirandinha, sob os cuidados da professora Lucilene Montelo.

Preocupada em garantir os direitos de aprendizagem de seus alunos a professora relata que o trabalho com gêneros textuais diversos proporcionou a interrelação entre os componentes curriculares e o desenvolvimento da leitura, escrita, análise da língua e oralidade das crianças.

Dentre os gêneros estudados a docente destaca o gênero notícia. “Comecei o estudo do gênero a partir da leitura do livro literário Guerra, Por quê? Osório de Matos. Depois de ouvirem a história as crianças comentaram sobre o assunto apresentado e solicitei a elas que trouxessem, no dia seguinte, notícias que remetessem ao tema abordado no livro. Eram notícias retiradas de jornais, revistas, livros didáticos e relatos de notícias vistas e ouvidas nos telejornais. A cada atividade desenvolvida observava o envolvimento e conhecimento dos alunos em relação às características do gênero, os temas abordados (componentes curriculares diversos) e o melhor, a propriedade com que eles falavam e produziam o gênero”.

O depoimento da aluna Ana Caroline, 10 anos, comprova que as aulas desenvolvidas proporcionaram prazer e significado para a turma. “Foi bom andar pelas ruas próximas a nossa escola, ver o que estava acontecendo e depois escrevermos notícias sobre o que vimos. Eu lia as palavras escritas nos muros, nas placas e melhorei minha leitura".

Gabriel Ribeiro, 08 anos, lembra ”quando a professora pediu para trazer notícias, assistir telejornais eu não gostei muito, mas depois de ler ou assistir notícias nos jornais e principalmente quando nós fomos os repórteres, eu comecei a me interessar”.

A gestora da unidade escolar, professora Laiz Marques diz que o envolvimento das crianças pelo trabalho desenvolvido mobilizou toda a escola. “Nós, funcionários, fomos entrevistados pelas crianças sobre assuntos pré-estabelecidos em sala de aula. As crianças deram show”, elogiou Laiz Marques.

A qualidade que tanto desejamos para educação pública se faz a partir de mudanças de postura, primeiro de quem constrói as políticas, mas essencialmente por quem as desenvolvem.
 
por Virgínia da Silva Camargo Bonfanti, responsável pelo Programa de Ações Articuladas (PAR) da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Trindade.

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