ENTREVISTA: Alaôr Dorneles de Oliveira afirma que “ainda compensa ser professor”.

Alaôr Dorneles de Oliveira é o número 5, de 10 irmãos, que nasceu em Palmeiras de Goiás, mas veio para Trindade nos idos de 1966, com sua família, para estudar. Eles moraram na Rua 16 de Julho por muitos anos. Alaôr fez Licenciatura em Geografia, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1985. Tem especialização em Geografia Econômica (1987) e Formação Socioeconômica do Brasil (1990). Com longa atuação política em Trindade, Alaôr é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 1988. Atualmente participa da diretoria do Sintego Regional de Trindade, como vice-presidente. Membro atuante do Rotary Club de Trindade, Alaôr Dorneles foi presidente da entidade em 1998-99. Atua no Curso Intensivo e Vivencial do Casamento (CIVC) há cerca de 20 anos. Participar de entidades como estas, na visão de Alaôr Dorneles, vale a pena “por causa da socialização e pela oportunidade de se fazer uma colaboração recíproca”. Alaôr Dorneles chegou à função de Secretário Municipal de Educação da Prefeitura de Trindade (2009), na gestão do prefeito Ricardo Fortunato (PMDB), e entende que a experiência “foi válida, apesar do sistema ser muito centralizado nas mãos do prefeito”. Alaôr está na direção do Colégio Estadual Divino Pai Eterno desde julho de 2011, com término marcado para dezembro de 2014, mas já exerceu o cargo de 1989 a 1996 e de 2001 a julho de 2005. Muito próximo de completar 36 anos de tempo de serviço, Alaôr Dorneles pensa seriamente em se aposentar em breve, pois “acho que já dei minha contribuição e meu tempo de contribuição é mais do que suficiente”. Veja a seguir os principais trechos de entrevista exclusiva com um dos professores mais conceituados de Trindade.

Como você escolheu ser professor?
Alaôr Dorneles - Não foi para a realização de um sonho. Concluído o segundo grau fui convidado por uma amiga para assumir umas aulas de português em Santa Bárbara de Goiás. Naquela época não havia concurso público para professor. Aí logo prestei vestibular para Geografia e como já estava na área, resolvi continuar trabalhando.

Qual sua visão a respeito da profissão de professor nos dias de hoje?
Alaôr Dorneles - Vejo a carreira de professor no Brasil com grande preocupação. O plano de carreira é muito ruim. Paga-se mal na entrada. Isso não atrai os melhores alunos do ensino médio para os cursos de Licenciatura. As Universidades têm vagas ociosas nestes cursos sempre. Os melhores alunos fazem opção por carreiras que remuneram melhor. Apesar disso, temos uma conquista, o Piso Nacional para os profissionais da Educação, embora haja uma divergência entre os governos (estaduais e municipais) com relação ao índice que se deve utilizar para o reajuste anual do piso.

Na sua opinião, por quê os professores têm sido pouco valorizados pela sociedade e os governos?
Alaôr Dorneles - Tem um caráter histórico nisso. A mudança de uma escola pública que funcionava basicamente para a elite, para uma escola que passou a atender um maior número de pessoas. Por isso houve a necessidade de se arregimentar mais profissionais. Só para lembrar que já existiu época em que havia exame de admissão para o aluno que terminava o Ginásio e queria fazer o segundo grau, mas precisava se submeter a esta prova para seguir seus estudos. As vagas eram poucas. A expansão da oferta de vagas para os alunos teve que contar com maior número de professores, e estes não existiam então. A qualidade começou a piorar justamente nesse momento, porque aumentou a demanda por professores. É desse período o surgimento de formação fajuta, as licenciaturas de curta duração. Na verdade, não tinha como preparar devidamente os profissionais naquele momento, conforme as necessidades de mão-de-obra.

Os professores têm alguma parcela de culpa nesta “desvalorização” dos mestres, nos últimos tempos?
Alaôr Dorneles - Não, porque acho que o professor foi muito mais refém desse processo do que propriamente o protagonista. Na verdade, o professor entrou na onda e quando percebemos, a nossa carreira tinha se tornado uma carreira sem respeito pela sociedade e pelo governo. Os próprios alunos não vêem o professor como alguém que está ali para ajudar na formação. Além disso, há uma grande mudança de valores na sociedade, com a transferência de obrigações até da família para as escolas.

O quê os professores precisam fazer para resgatar o respeito que a categoria teve outrora?
Alaôr Dorneles - No meu ponto de vista há 4 elementos básicos ou fundamentais na Educação, para fazer com que ela funcione bem. Não existe escola sem professor e sem aluno. O professor tem o papel de ensinar e o aluno, aprender. Ao professor cabe mediar essa relação. A família tem o papel de formar a pessoa, transmitindo valores como verdade, respeito, honradez, disciplina, sem querer usurpar o papel de ensinar, que é da escola que também, claro, falará sobre esses valores. Ao governo cumpre garantir as condições para que a Escola funcione, pagando salários dignos aos profissionais que trabalham na área, disponibilizando a estrutura física, os regulamentos, a definição das prioridades, disciplinando os conteúdos enfim, traçando a política pública para o setor. O professor vai resgatar o respeito da sociedade fazendo com que isso funcione de verdade.

O modelo tradicional de professor em sala de aula com giz, lousa, falando, lendo, não está perdido neste tempo em que meninos e meninas ficam conectados pelos smartphones na internet, ouvindo música, vendo clipes, tudo simultaneamente?
Alaôr Dorneles - Não concordo, porque eu entendo que o professor é essencial no processo que os especialistas chamam de ensino-aprendizagem. Há diferença entre informações e conhecimento, que é diferente de sabedoria, podemos dizer. O professor é alguém que consegue trabalhar essa vastidão de informações, selecionando o que é relevante, transformando em conhecimento para os alunos. É assim que vejo, e penso que o professor sempre será protagonista na Educação.

Professor é mesmo bom gestor no Serviço Público de Educação?
Alaôr Dorneles - Acho que temos na Educação bons gestores, mas eu quero lembrar que nós não fomos formados para sermos gestores. Porque que você chega numa escola que recebe proporcionalmente a mesma quantidade de dinheiro e vê tudo bem cuidado, mas ao chegar em outro estabelecimento a coisa é mais desorganizada? Isso é gestão.

O que falta fazer para melhorar a qualidade deste serviço essencial?
Alaôr Dorneles - Acredito que é preciso não tentar reinventar a roda. Se cada um dos elementos envolvidos no processo cumprir o seu papel a coisa vai caminhar normalmente. Por exemplo, o professor ser mais comprometido com seu trabalho, o aluno mais dedicado aos estudos, a família fazendo sua parte e dando suporte para que a Escola faça o que ela efetivamente tem que fazer, e o governo cumprindo a parte que lhe cabe.

As mudanças feitas na carreira do professor estadual pelo atual governo foram mais nocivas ou trouxeram benefícios em maior quantidade para a carreira dos mestres?
Alaôr Dorneles - No meu ponto de vista foi mais nociva porque retirou direitos adquiridos ao longo de muitos anos de luta. A titularidade, por exemplo, que foi incorporada ao salário. Nesse primeiro momento não haverá perda salarial, mas para o futuro bem próximo isto já terá reflexo negativo no salário. Além disso, cursos de especialização perderam o sentido, do ponto de vista da obtenção de gratificação. Ou o professor faz mestrado ou doutorado, porque esses, sim, vão fazer a diferença no vencimento.

Diante do atual quadro, vale a pena ser professor?
Alaôr Dorneles - Na minha visão, sim. Ainda compensa ser professor. Vejo na figura do professor um sujeito capaz de ajudar a promover as mudanças de que tanto este País precisa para fazê-lo mais justo e fraterno.

Qual a pior coisa de ser professor?      
Alaôr Dorneles - Preencher pautas, a parte burocrática, corrigir provas e trabalhos.

Qual a maior “delícia” em trabalhar como professor?

Alaôr Dorneles - Dar aula, porque ministrar aulas é muito bom. Quando você está em sala de aula com seus alunos o tempo passa voando.

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