BETs: endividamento disfarçado de diversão
A armadilha algorítmica: Entenda por que a maioria dos 17,7 milhões de apostadores brasileiros perde, e como o endividamento virou a maior consequência das BETs
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Manoel Souza, articulista. (Foto: Reprodução) |
ARTIGO | Manoel Souza é administrador, funcionário aposentado do Banco do Brasil, diretor da AFABB-DF e Conselheiro da FAABB
O termo “BETs” é uma forma simples de se referir a apostas – especialmente apostas esportivas e jogos on-line oferecidos por plataforma digitais. Funciona assim: o jogador aposta uma quantia sobre o resultado de um evento (de um jogo de futebol, por exemplo). As casas de apostas definem as odds (cotações) que implicam uma probabilidade implícita - se o resultado ocorrer, o apostador recebe o montante multiplicado pelas odds. Caso contrário, o jogador perde o valor apostado.
Segundo dados do Ministério da Fazenda, publicados no site cnnbrasil.com.br, em 26.8.2025, no primeiro semestre deste ano, 17,7 milhões de pessoas realizaram apostas esportivas no País. Esses brasileiros gastaram, em média, R$ 164,00 por mês, totalizando, no semestre, o valor de R$ 984,00 por apostador.
Embora alguns apostadores ganhem pontualmente, a lógica algorítmica dos jogos, as probabilidades e os incentivos para reinvestir os ganhos, apontam um cenário previsível: a maioria vai perder.
Para atuarem no Brasil, as empresas de apostas precisam de autorização governamental. Conforme informações publicadas no site G1.com, até o final do primeiro semestre deste ano havia 78 empresas autorizadas a operar no País, totalizando 182 marcas. Nessa lista, além das empresas de apostas esportivas, também há plataformas que operam outros tipos de jogos de azar, como o famoso “Jogo do Tigrinho”, que é uma espécie de caça-níquel on-line.
O percentual de brasileiros que afirmam ter se endividado devido a gastos com apostas on-line mais que dobrou em 11 meses, saindo de 16% em outubro de 2024 para 35% em setembro de 2025.
A atuação das BETs foi autorizada pela Lei Federal n.º 13.756, de 12 de dezembro de 2018. Desde então, elas cresceram no País e vêm investindo alto em publicidade, inclusive patrocinando clubes de futebol.
Essas empresas de apostas e de jogos on-line faturaram R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre deste ano. Esse valor, segundo o governo, representa o total de apostas menos os prêmios pagos.
Mas olhando somente para o lado dos apostadores, já temos pesquisas indicando o perigo das BETs em relação ao endividamento e ao vício causado pelo jogo.
Para muitos que já estão endividados, apostar pode parecer uma “saída rápida” para resolver problemas financeiros. Na prática, porém, é um agravante da situação. O baixo nível de educação financeira da maioria da população também entra na equação do problema.
Conforme pesquisa divulgada no site informoney.com.br, o percentual de brasileiros que afirmam ter se endividado devido a gastos com apostas on-line mais que dobrou em 11 meses. Em outubro de 2024, apenas 16% dos apostadores diziam estar endividados. Esse mesmo índice alcançou 35% em setembro de 2025.
Por outro lado, e também muito preocupante, vários problemas familiares e vícios em jogos on-line podem estar interligados, levando a conflitos, isolamento social, endividamento e complicações de saúde mental, como ansiedade e depressão. O vício pode afetar a estabilidade financeira, prejudicar relacionamentos e levar as pessoas a negligenciar responsabilidades, resultando em um ciclo de artimanhas e dificuldades para a família.
Assim, estejamos atentos. As apostas podem deflagrar comportamentos viciantes e altamente sedutores, mas com resultados desastrosos. Segundo a psicóloga e psicanalista Ana Volpe, a participação em apostas esportivas, cassinos on-line e jogos caça-níqueis libera dopamina no cérebro, neurotransmissor associado à motivação e ao prazer. Essa liberação gera sensação de euforia, incentivando o apostador à repetição do comportamento.
Para terminar, um importante lembrete do empresário e escritor Orlando Nussi: “O maior azar de um viciado em jogos é ganhar de vez em quando.”
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